Jornada Científica foca em desenvolvimento e sustentabilidade

Ao contrário de anos anteriores, a 12ª edição da Jornada Científica será totalmente virtual e apenas em um dia.

 

A utilização de microrganismos para solubilizar as rochas fosfáticas, partindo da capacidade natural que esses seres têm de produzir ácidos orgânicos é um dos temas que serão abordados nesta quarta (23), na 12ª edição da Jornada Científica das duas unidades da Embrapa, em São Carlos (SP), a Instrumentação e a Pecuária Sudeste. A maioria dos trabalhos explora soluções em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), integrantes da Agenda 2030 da ONU, que vai completar cinco anos na sexta-feira, dia 25.

Na pecuária, um trabalho sobre padronização de cultivo in vitro de um parasita gastrintestinal que acomete rebanho de ovinos e caprinos, em grande parte, pode levar ao estudo de marcadores moleculares ligados à resistência aos vermicidas. Além disso, vai permitir mais estudos sobre este parasita, favorecer seu controle e proporcionar maior economia por meio de tratamentos mais efetivos que garantam a saúde e produtividade dos rebanhos.

Nesta edição, a Jornada Científica vai apresentar 55 trabalhos, em cinco áreas de pesquisa, envolvendo 25 bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Jornada Científica ainda vai agregar em torno de 100 alunos de graduação, pós-graduação, professores, pesquisadores e outros profissionais. São 25 trabalhos no formato oral e 30 e-pôsteres.

Ao contrário de anos anteriores, quando o evento ocupava dois dias, esta edição será realizada em apenas um, em formato totalmente virtual. A palestra de abertura será realizada por Silvio Crestana, pesquisador e ex-presidente da Embrapa. O físico vai explorar “A hora do líder” como tema para motivar os alunos.

Fungos têm baixo impacto ambiental

Embora o fósforo (P) seja um nutriente essencial para o crescimento das plantas, porque tem um importante papel em diversos processos celulares, energéticos e o desenvolvimento de raízes, o método de produção dos fertilizantes fosfatados envolve ácidos fortes, alto gasto energético e geração de grande quantidade de resíduos.

Em busca de uma agricultura sustentável, os bolsistas Sendy Soares, aluno de graduação do Instituto de Química de São Carlos/USP, e Camila Patrícia Fávaro, doutoranda em Engenharia Química, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), avaliaram dois fungos, o Aspergillus niger e o Trichoderma spp. como agentes promotores de solubilização de rochas fosfáticas.

“Os resultados demonstraram a alta capacidade de acidificação do meio e solubilização de diferentes fontes de fosfato inorgânico pelo Aspergillus niger, demonstrando o alto potencial dessa cepa ser utilizada em combinação com Trichoderma spp. no desenvolvimento de biofertilizantes com múltiplas funções”, conclui Soares.

O trabalho orientado por Cristiane Sanchez Farinas, pesquisadora da Embrapa Instrumentação, analisou a solubilização das rochas fosfáticas Bayóvar, localizada no deserto de Sechura, no Peru, um dos maiores depósitos na América do Sul, Pratápolis (MG) e Registro (SP), por meio dos microrganismos isolados e combinados, Aspergillus niger e Trichoderma spp. O primeiro fungo é conhecido pela alta capacidade de produção de ácidos orgânicos e o segundo é bastante utilizado no controle biológico.

Para Soares, a Jornada Científica representa não só uma oportunidade de apresentar o trabalho e os resultados, mas também o de compartilhar o conhecimento adquirido. “O propósito é abrir novos caminhos e oportunidades tanto para as pessoas que assistem quanto para mim que estarei aprendendo mais sobre meu próprio trabalho quando apresentar. Espero nessa edição contribuir com a sociedade científica de alguma forma e aprender mais sobre outros ramos da pesquisa que desconheço", diz.

Pesquisa avalia cultivo de parasita

A bolsista Alessandra Nucci vai apresentar o trabalho “Padronização de co-cultivo in vitro de Haemonchus contortus com células abomasais ovinas”. O estudo foi elaborado em coautoria com Luciana Giraldelo, Isabella Barbosa dos Santos, Yousmel Alemán Gainza e a pesquisadora Simone Niciura, da Embrapa Pecuária Sudeste. Segundo Alessandra, a principal descoberta até o momento foi a possibilidade do cultivo do parasita Haemonchus contortus de maneira viável. “Por enquanto, por curto período, pois os estudos precisam ser repetidos”, disse ela.

Para o estudo do Haemonchus contortus se faz necessária a infecção de ovinos que serão os hospedeiros utilizando isolados do parasita em questão. “O maior desafio encontrado até o momento foi possibilitar o controle da infecção natural dos animais hospedeiros, uma vez que os ovinos apresentam grande carga parasitária natural e a população de parasitas apresenta resistência aos anti-helmínticos”, disse. Anti-helmínticos são medicamentos utilizados para combater a verminose. “Outro desafio é manter o cultivo in vitro sem contaminação, uma vez que trabalhamos com tecidos ricos em microorganismos (como abomaso) e também parasitas recuperados das fezes”, falou a pesquisadora. Abomaso é uma parte do estômago de ruminantes.

Para Alessandra, o cultivo in vitro do parasita permitirá maiores estudos sem a necessidade da utilização contínua de ovinos hospedeiros, o que, além de viabilizar mais pesquisas, também prima pelo bem-estar animal. Outra boa notícia para o agro é que a pesquisa poderá avançar para o desenvolvimento de vacina contra esse parasita.

“A produção ovina tem se expandido e é um mercado promissor, mas o H. contortus é um parasita que causa grandes prejuízos aos produtores porque se alimenta do sangue dos hospedeiros (ovinos), causando entre outros males, anemia, perda de peso e, principalmente em filhotes, pode levar à morte”, disse ela. Além disso, esses parasitas apresentam grande resistência aos fármacos antiparasitários, mesmo aos mais modernos.

Alessandra explicou que os próximos passos da pesquisa incluem a repetição do experimento a fim de finalizar os métodos de cultivo, além de avaliar o período pelo qual é possível manter os parasitas viáveis e férteis. “Com a obtenção de parasitas viáveis iremos estudar marcadores moleculares de resistência ao monepantel em H. contortus.

Joana Silva (19554)
Embrapa Instrumentação

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