“Cacau-Cabruca é um sistema ecológico de cultivo agroflorestal. Baseia-se na substituição de estratos florestais por uma cultura de interesse econômico, implantada no sub-bosque de forma descontínua e circundada por vegetação natural, não prejudicando as relações mesológicas com os sistemas remanescentes”.
Muitas são as referências feitas à magnitude da floresta tropical sulbaiana, desde o tempo do descobrimento do Brasil, com a carta de Pero Vaz de Caminha, até os nossos dias. Andrade Lima em 1966, numa analogia à floresta amazônica chamou-a de Hiléia Baiana. A sua exuberância é percebida no conjunto, pela estrutura vertical e horizontal, pela presença de espécies amazônicas e atlânticas sul, pela alta biodiversidade lenhosa, pela ocorrência de numerosas espécies endêmicas regionais e restritas, bem como, pela ocorrência de variadas tipologias vegetais.
Estudos e levantamentos realizados na Região Cacaueira da Bahia dão uma idéia geral sobre sua diversidade, biometria e composição florestal. Em Serra Grande, distrito de Uruçuca (Ba) foram identificadas 458 espécies lenhosas em apenas um hectare. Existem fragmentos florestais com exemplares arbóreos medindo mais de 40 metros de altura. No município de Santa Luzia (BA), apenas um indivíduo de jequitibá-rosa (Cariniana estrelensis) produziu 64 m3 de madeira serrada em tábua.
A conservação desse “universo” até o limiar do ano 2000, deve-se, quase que exclusivamente ao modelo de cultivo criado para o cacaueiro (Theobroma cacao), que valorizou suas características agroflorestais e consolidou uma estratégia única para o estabelecimento de um sistema agrícola, chamado de cacau-cabruca.
Cacau-cabruca é um termo regional empregado para caraterizar uma forma de plantio de cacauais utilizada pelos colonizadores da região Sudeste da Bahia. Há mais de 200 anos, grupos de migrantes e imigrantes chegados de regiões áridas do nordeste e da Arábia, enfrentaram os desafios para se estabelecer agronomicamente numa região de floresta tropical virgem habitada por tribos agressivas e animais bravios. Com respeito e sabedoria valorizando a exuberância do verde e a fartura dos recursos hídricos, implantaram a cacauicultura no sub-bosque da mata primária, promovendo um convívio harmônico e duradouro com a natureza.
Essa forma de plantio tornou-se um modelo agrícola que o tempo mostrou ser altamente eficiente, pois, além de gerar recursos financeiros, conservou fragmentos da floresta tropical primária, conservou exemplares arbóreos de inestimável valor para o conhecimento agronômico, florestal e ecológico, conservou uma fauna diversificada e tecnicamente pouco conhecida, conservou recursos hídricos regionais e fixou o homem no meio rural. A soma de todos esses valores, compõem um ecossistema único, diferenciado e extremamente diversificado, conhecido como - ecossistema cacaueiro, sendo ele, sem sombra de dúvida, a maior riqueza que a Região Cacaueira da Bahia foi capaz de gerar para o mundo.
Dan Érico Lobão - Eng. Florestal - MSc
Pesquisador da Ceplac/Cepec/Seram
Diretor Técnico do Instituto Agroambiental Cacau-Cabruca
Seram - Fone: (73) 3214-3238 - Fax (73) 3214-3204
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Fonte: Ceplac
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