A mancha amarela é uma das principais doenças do trigo na Região Sul
do Brasil, favorecida pelo plantio direto que garante alimento para o
fungo entre os cultivos. Na última década, ela tem aparecido com maior
frequência também nos cultivos da Europa e Canadá. O cenário de mudanças
climáticas deixa em alerta importantes centro de pesquisa do mundo para
o aumento na incidência de doenças no trigo, com a formação de
parcerias na avaliação de novas tecnologias para controle de doenças
emergentes no cereal mais plantado no mundo.
Em busca de um
melhor controle da mancha amarela em trigo, a Embrapa e a Universidade
de Aberystwyth (Reino Unido) criaram uma rede de colaboradores, com a
participação da Universidade de Curtin (Austrália), Universidade de La
Plata (Argentina) e a Epamig (Minas Gerais, Brasil). O projeto vai
estudar a doença visando o desenvolvimento de ferramentas de
identificação e detecção precoce da doença. Serão utilizadas tecnologias
de fenotipagem rápida com sensores para captura de imagens dos sintomas
de estresse por doenças nas plantas em tempo real, uso de toxina para
avaliar a sensibilidade das plantas à doença, caracterização de
genótipos de trigo e de isolados do fungo, entre outras técnicas.
“A
mancha amarela é uma ameaça emergente à produção de trigo mundial, que
apresenta grande resistência aos fungicidas. O projeto visa somar
estratégias de campo com resultados de laboratório permitindo o controle
precoce do problema, identificando material genético mais resistente e a
redução no uso de fungicidas”, conclui o pesquisador da Embrapa Trigo,
Flávio Santana.
Equipamentos detectam sinais emitidos por plantas estressadas
De
acordo com o Diretor de Pesquisas da Universidade de Aberystwyth, Luis
Mur, as “tecnologias ômicas” (omics technologies - que envolvem
conhecimentos de genômica, proteômica, metabolômica, fenômica, etc), têm
sido utilizadas para integrar abordagens de biologia de sistemas no
desenvolvimento de ferramentas de base, incluindo a bioinformática e
bases de dados relevantes. “A planta estressada produz sintomas
(chamados de metabólitos) que podem estar associados à defesa da planta.
Entender como funcionam estes mecanismos de defesa é possível hoje
através das novas tecnologias que estão sendo avaliadas pelos institutos
de pesquisa em busca de soluções de longo prazo para controle das
doenças no trigo”, explica o pesquisador britânico que trabalha em
colaboração com a Embrapa Trigo no controle da mancha amarela.
Novas
tecnologias que integram biologia e informática também estão sendo
utilizadas para avaliar doenças de espiga no trigo, como giberela e
brusone. Técnicas de fenotipagem estão avaliando compostos químicos em
sinais emitidos por plantas infectadas por fungos de espiga no trabalho
coordenado pelo pesquisador do Instituto Rothamsted (Reino Unido), David
Withall. O objetivo, segundo ele, é detectar doenças nas culturas antes
mesmo que os sintomas apareçam, possibilitando maior eficiência na
seleção genética ou eficiência dos fungicidas.
Características da Mancha amarela do trigo
A
mancha amarela do trigo é uma doença foliar que acomete lavouras em,
praticamente, todas as regiões produtoras do cereal no mundo. Os danos
têm sido crescentes na última década devido às oscilações climáticas que
aumentam a frequência das chuvas e elevam as temperaturas durante os
cultivos de inverno e primavera. Com ampla distribuição geográfica, a
mancha amarela no trigo foi registrada em países da América do Sul,
África e Europa, além do Canadá e Austrália.
No Brasil, a doença é
mais frequente na Região Sul, causada pelo ataque do fungo Pyrenophora
tritici-repentis que sobrevive nos restos culturais de gramíneas
utilizadas no sistema plantio direto na palha. O fungo causa lesões na
folha, reduzindo a área de fotossíntese que responde pelo rendimento de
grãos na cultura. As perdas em lavouras de trigo e cevada podem chegar a
50%.
Para controle da mancha amarela têm sido utilizadas
estratégias químicas (fungicidas), manejo (rotação de culturas – duas
safras sem trigo ou cevada) e genéticas (cultivares resistentes).
Contudo, a agressividade do fungo tem desafiado os pesquisadores na
oferta de cultivares resistentes e na total eficiência dos fungicidas,
resultando em falhas no controle em diferentes locais do mundo.
Joseani M. Antunes (MTb 9693/RS)
Embrapa Trigo
Embrapa Trigo
Fonte: Embrapa
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