BIODIESEL WEEK: Palma de óleo, macaúba e canola são espécies promissoras para o biodiesel, diz pesquisador da Embrapa Agroenergia
O pesquisador da Embrapa Agroenergia Bruno Laviola foi um dos palestrantes do webinar “Novas matérias-primas para o biodiesel”, ocorrido no dia 11 de agosto. Entre os principais temas abordados, Laviola destacou a necessidade de diversificação de matéria-prima, as três oleaginosas com mais chances de sucesso para a produção de biodiesel e outras duas fontes que também devem ser consideradas.
Laviola iniciou sua participação destacando a importância da soja enquanto principal matéria-prima para a produção de biodiesel no Brasil. Entretanto, ele ressaltou a necessidade de diversifição de matéria-primas. De acordo com a Ubrabio, cerca de 70% do biodiesel no Brasil vem da soja, o que torna esse biocombustível vulnerável às oscilações de disponibilidade e de preço do grão no mercado.
“A soja foi e continuará sendo a principal matéria-prima para o biodiesel no Brasil, mas é importante que a gente tenha outras opções para que o País não fique na dependência dos riscos inerentes a uma ou poucas fontes de matérias-primas”, defendeu Laviola. “Além disso, a diversificação traz um componente ambiental, social e econômico muito importante, principalmente nas diferentes regiões do Brasil gerando novas fontes de renda”, explicou.
Diante desse cenário, o pesquisador da Embrapa enumerou as três oleaginosas preferenciais para a produção de biodiesel considerando aspectos como tecnologia e escala de produção, logística e valor de mercado dos óleos: palma de óleo (dendê), macaúba e canola.
Sobre a palma de óleo, Laviola destacou como pontos fortes da oleaginosa a densidade energética (cerca de 4 mil kg de óleo/hectare - a soja produz 500 kg) que a torna a maior produtora de óleo no mundo e o preço altamente competitivo. Como desafios, citou a necessidade de aumentar a escala de produção.
“Hoje temos 250 mil hectares plantados de palma de óleo, mas um estudo de zoneamento agroecológico realizado em 2010 mostrou que temos mais de 30 milhões de áreas aptas já mapeadas que poderiam se utilizadas para o plantio desta oleaginosa”, disse Laviola.
A segunda espécie elencada pelo pesquisador como promissora para a produção de biodiesel é a macaúba. Segundo Laviola, trata-se de uma espécie perene e nativa do Brasil, ainda em domesticação e com múltiplas possibilidades de uso. Além disso, tem grande potencial produtivo, acima de 4 mil kg de óleo/hectare (semelhante à palma de óleo), segundo pesquisas realizadas pela Embrapa Agroenergia.
“Estamos investindo em melhoramento genético, bancos de germoplasma e seleção genética para encurtar o tempo do melhoramento e na seleção de plantas superiores, com base no DNA, para predizer o valor dessa oleaginosa para a geração de novas cultivares”, afirmou o pesquisador.
A terceira espécie citada foi a canola, que é a terceira maior oleaginosa em termos de produção de óleo no mundo, ficando atrás apenas da palma e da soja. “O Brasil tem 40 mil hectares plantados com grande potencial de crescimento, sendo esta uma espécie anual e de ciclo muito curto, entre 90 e 120 dias”, destacou Laviola. A planta também tem o potencial de produzir entre 1 mil e 1,5 mil kg de óleo/hectare, tem o farelo rico em proteína (33%), preço semelhante ao da soja no mercado internacional e nenhuma toxicidade.
“Uma das frentes de pesquisa da Embrapa Agroenergia são estudos para a tropicalização da canola. A produção nacional não atende o mercado alimentício e de biocombustíveis e ainda precisamos importar este insumo. O ideal seria aumentar a escala de produção desse óleo combinando soja e canola ou utilizando a canola como safrinha”, sugeriu o pesquisador.
Outras duas culturas citadas como promissoras por Laviola foram o óleo do milho, cuja produção para biodiesel vem crescendo no Brasil com o aumento de usinas produtoras e o sebo bovino, que pode ser trabalho em sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e diversificar a produção dos agricultores.
Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, destacou a importância das parcerias privadas para estimular os trabalhos que têm sido realizados. "É preciso organizar uma rede com objetivos claros, que canalize recursos para os estudos e traga a iniciativa privada para o estabelecimento de modelos de parcerias", destacou Alonso.
Diversificação de matérias primas
Rafael Menezes, representante do MCTI no seminário, afirmou que o biodiesel está entre as prioridades das estratégia de ciência, tecnologia e inovação do governo e conta com um plano específico para atuar em pesquisa e desenvolvimento nessa área. Ele destacou como principal desafio para a produção de biodiesel a diversificação de fontes de matéria-prima.
"A produção de biodiesel está na dependência de uma única fonte de matéria-prima, o que, de certa forma, se contrapõe ao que era o objetivo inicial do programa de biodiesel, que era sustentar a sua cadeia de produção e uso com base na diversidade de matérias-primas existentes nas cinco regiões do País", lembrou Menezes.
Sobre este assunto, Juliana Lichston, professora e pesquisadora do Laboratório de Investigação de Matrizes Vegetais Energéticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), lembrou que o Brasil tem condições de produzir novas matérias-primas mesmo em áreas com clima pouco favorável à agricultura. Ela citou como exempo o cultivo do cártamo no Semiárido brasileiro. "Temos há quatro anos uma parceria com a Ben-Gurion University, de Israel, que possui um know how incrível em cultivo de plantas em ambientes desérticos", afirmou a pesquisadora, destacando a busca por uma metodologia que possa ser adaptada à região semiárida do Brasil.
Ainda sobre a diversificação de matérias-primas, Roberto Derner, professor do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), falou dos estudos com microalgas como matéria-prima para a produção de biodiesel. Segundo o pesquisador, é possível fazer biodiesel com praticamente todas as microalgas, embora algumas tenham maior teor de lipídeos de interesse. "As microalgas tem maior produtividade que outras matérias-primas e podem ser cultivadas em áreas impróprias para a agricultura convencional, com água e solo impróprios, o que é uma grande vantagem", explicou Derner.
Juan Diego Ferrés, presidente da Ubrabio, finalizou o webinar reclamando da falta de uma política que viabilize os diferentes estudos que têm sido realizados por grupos de pesquisa brasileiros. "Está faltando fomento e uma política transversal que envolva o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Regional, com olhar mais vinculado ao Nordeste. Está faltando unir as pontas que permitam que o enorme potencial brasileiro ganhe velocidade", disse Ferrés.
O webinar “Novas matérias-primas para o biodiesel” contou com a participação dos pesquisadores Bruno Laviola, da Embrapa Agroenergia; Juliana Espada Lichston, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Roberto Derner, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Também participaram do webinar o coordenador-geral de Estratégias e Negócios da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Rafael Menezes; e, como moderador, Rômulo Morandin, diretor de Operação da usina produtora de biodiesel Biopar.
Leilões de biodiesel poderão ter fim em 2022
O Ministério de Minas e Energia (MME) pretende extinguir o atual sistema de leilões de biodiesel em 2022. A afirmação é do secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, José Mauro Ferreira Coelho, ao participar do webinar “Leilões de biodiesel”, dentro da programação da Biodiesel Week.
Segundo José Mauro Ferreira, essa mudança na forma de comercialização de biodiesel é uma maneira de as empresas se adequarem à nova dinâmica do mercado. Recentemente, a Petrobras anunciou que pretende se retirar do sistema de leilões e vender refinarias. As medidas fazem parte de uma estratégia de desinvestimento adotada pela companhia.
Uma proposta de resolução com as diretrizes para o fim dos leilões está sendo finalizada pelo Ministério de Minas e Energia até o mês de setembro, quando será discutida pelo Comitê Técnico do programa Abastece Brasil. A intenção do governo é encaminhar essa proposta até dezembro ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para que ela seja avaliada.
De acordo com o secretário, o MME pretende fazer um período de transição ao longo do próximo ano, quando a proposta para o fim dos leilões passaria por um processo de consulta pública. A ideia de apresentar a resolução ao CNPE ainda este ano é para que o governo tenha todo o ano de 2021 para fazer as mudanças necessárias.
“Há todo um aspecto regulatório a ser trabalhado e a ANP vai trabalhar isso dentro da sua agenda regulatória, com consulta pública, com audiência pública, com tudo que faz parte da governança das resoluções da ANP”, explicou José Mauro Ferreira. “Assim, se realmente essas implementações que nós queremos fazer da nova forma de comercialização, mais aberta, dinâmica e sem os leilões for implementada, isso aconteceria só em 2022. Nós teríamos o ano de 2021 todo para fazer essas discussões e acertar tudo em relação aos aspectos regulatórios da nova forma de comercialização”, concluiu.
Já Sandro Barreto, gerente geral de Marketing da Petrobras, falou sobre as mudanças que estão sendo realizadas pela estatal. “Acredito que estamos diante de um novo momento de ruptura. Um momento de parar e pensar para frente. O [processo de] desinvestimento da Petrobras causa uma mudança no cenário de combustíveis como um todo no Brasil e o biodiesel é mais um dos produtos que vai ser afetado por esse desinvestimento. Vai ser afetado de diversas formas. A mais significativa é na participação da própria Petrobras nesse mercado”, afirmou o executivo da Petrobras.
O diretor executivo do portal BiodieselBR.com, Miguel Angelo Vedana, fez uma série de reflexões, entre elas os impactos causados pela saída da Petrobras do sistema de leilões.
“Até hoje nunca existiu leilão de biodiesel sem a Petrobras. Então, o desafio que as usinas e as distribuidoras têm é grande. É preciso se esforçar para que essa transição seja feita da forma menos dolorosa possível para todos. O governo está aberto a discutir e isso é importante. As usinas precisam estar preocupadas com isso. Todas as distribuidoras também têm de estar preocupadas em como vai ser a comercialização do biodiesel depois da saída da Petrobras, porque isso vai afetar fortemente as grandes e pequenas. Talvez mais as pequenas do que as grandes”, afirmou Miguel Angelo.
Para o presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, a maior preocupação é que se perca a dinâmica de construtividade do leilão. “Podemos evoluir para um modelo que transfira a responsabilidade hoje da Petrobras aos operadores de refinaria do ponto de vista de faturamento e logística”, propôs.
Uma das sessões mais aguardadas da Biodiesel Week, o webinar “Leilões de Biodiesel” foi acompanhado por cerca de 900 pessoas pelo canal da Ubrabio no YouTube. O seminário virtual foi moderado por Marcos Boff, diretor corporativo do Grupo Oleoplan e vice-presidente técnico da Ubrabio. Boff também fez uma alerta sobre a importância de dar o devido tratamento tributário nesse processo.
Preços
Durante os debates, Sandro Barreto também falou sobre a relação entre o sistema de leilões e o preço do biodiesel, mostrando que não há correlação direta entre os dois. “Não vejo o modelo como um incentivador de preço alto. O modelo de leilão busca um equilíbrio de mercado. O que nós temos visto é um desequilíbrio de oferta e demanda. O desequilíbrio de oferta e demanda causa preço alto”, explicou Barreto, que fez uma comparação com o etanol.
“A gente pode trazer um exemplo muito forte, que ocorreu no mercado de etanol, entre 2011 e 2012, quando houve um problema de safra e faltou etanol anidro, não havia leilão e o preço do etanol anidro foi nas alturas e passou dos R$ 3”, explicou Sandro Barreto.
Todas as palestras da Biodiesel Week estão disponíveis no canal da Ubrabio no YouTube. Para acessar, clique aqui.
Irene Santana (Mtb 11.354/DF)
Embrapa Agroenergia
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