A Embrapa Pecuária Sul e o Universo Pecuária realizaram, nesta quinta-feira (03/11), o Dia de Campo Intensificação Sustentável da Pecuária. O evento aconteceu em Lavras do Sul, nas fazendas São Crispim e Espinilho, durante a programação do Universo Pecuária. Nas duas propriedades, a Embrapa Pecuária Sul, em parceria com os produtores rurais e outras instituições, desenvolveu trabalhos de pesquisa que foram apresentados durante o evento.
Na primeira estação do Dia de Campo, na Fazenda São Crispim, as pesquisadoras Cristina Genro e Elen Nalério, da Embrapa, o professor da UFRGS Aino Jacques, e os proprietários Adauto Loureiro e Alessandra Loureiro falaram sobre a terminação de novilhos de corte em sistemas de campo nativo e campo nativo melhorado. Na propriedade, em 23% da área total é realizado o melhoramento do campo nativo com fertilização e introdução de azevém de ciclo longo.
“A área de campo nativo melhorado é o pulmão da propriedade, pois é a partir de onde todo o sistema produtivo funciona”, destaca Loureiro que, com essa estratégia, conseguiu manter boa disponibilidade de forragem nos períodos frios do ano e potencializar a qualidade e diversidade forrageira dos campos nativos, melhorando os índices produtivos e reprodutivos dos animais, além de manter preservado o bioma Pampa. “Hoje somos reconhecidos por ser uma propriedade de pecuária sustentável e isso é motivo de grande orgulho”, disse Loureiro.
O uso de fertilizantes e a sobressemeadura de forrageiras de estação fria são ferramentas para potencializar a produção de forragem, especialmente no inverno e primavera, período em que os campos naturais reduzem a sua produção. Esse manejo permite, entre outros benefícios, aumentar o desempenho na terminação de bovinos de corte em pastagem natural e reduzir a idade de abate.
Conforme a pesquisadora Cristina Genro, a Embrapa avaliou, por dois anos, três sistemas de terminação de novilhos da Fazenda São Crispim: o primeiro apenas em campo nativo, o segundo em campo nativo melhorado e o terceiro em campo nativo melhorado quando os animais não alcançavam peso de abate apenas no nativo. Os melhores resultados foram auferidos no campo nativo melhorado, com idade de abate aos 23 meses e ganho médio diário de 1.260 kg.
As carcaças e a carne desses animais foram avaliadas em estudo posterior e, conforme a pesquisadora Elen Nalério, todos os sistemas produziram carcaças dentro da categoria chamada gordura mediana, com boa maciez e perfil de ácidos graxos benéficos à saúde humana, com proporção de ômega 6 e ômega 3 de 3:1 – a Organização Mundial da Saúde preconiza que são saudáveis as relações abaixo de 4:1.
Na segunda estação, na Fazenda Espinilho, o pesquisador Danilo Sant’Anna, da Embrapa,a professoraTangriani Assmann, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o professor Aníbal de Moraes, da Universidade do Paraná, e os produtores rurais Carlos Wagner La Bella e Adrovando Borges apresentaram o trabalho realizado em parceria, intitulado PAP Labor (Parceria Agropecuária La-Bella e Borges).
No local, foi realizada a avaliação de três sistemas de produção: um com lavoura de soja no verão e aveia e azevém no inverno, outro com sorgo grão no verão e aveia e azevém no inverno, e um terceiro no sistema Pasto sobre Pasto, conceito que trata da diversidade e sobreposição de plantas com características complementares em uma mesma área, visando a estabilidade na produção de forragem ao longo do ano, sobretudo na transição entre as estações quentes e frias, quando ocorrem os problemas de vazios forrageiros.
Durante o Dia de Campo, os pesquisadores e professores compararam trincheiras abertas em diferentes áreas, visando mostrar a diferença dos perfis de solo nos três sistemas avaliados. A apresentação demonstrou que a maior a diversidade de plantas, como ocorre no campo nativo, e uso de práticas agrícolas adequadas, como o plantio direto e não revolvimento do solo, permitem melhor estruturação do solo, aumento da capacidade de captação de água e nutrientes, aumento de captação e fixação de carbono, potencialização dos organismos vivos que habitam no solo, entre outras melhorias.
Nesse sentido, a partir da compreensão dessas dinâmicas, o objetivo da PAP Labor é desenvolver e aprimorar sistemas de produção integrados de lavoura e pecuária para áreas do sul do Brasil, em especial nas áreas de terras altas do bioma Pampa, mais diversos e sustentáveis, com menor dependência de insumos externos, maior resiliência, menores riscos, tanto produtivos como econômicos e ambientais, e que por fim, possam proporcionar maior renda e segurança aos produtores, além de uma crescente melhoria dos recursos utilizados como solos e água, entre outros. O trabalho visa oferecer ao setor produtivo alternativas mais sustentáveis em relação a alguns modelos convencionais de integração lavoura-pecuária que vêm sendo utilizados.
Felipe Rosa (14406/RS)Embrapa Pecuária Sul
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