Acúmulo de carbono no solo e a importância da adoção de práticas de manejo sustentáveis

Acúmulo de carbono no solo

O plantio direto na palha é uma prática agrícola adotada por produtores no Cerrado desde a década de 1980. Sua adoção viabiliza várias safras num mesmo ano agrícola. Além de reduzir a erosão e evitar perdas de solo, o SPD reduz os custos de produção por não necessitar revolver o solo (menor custo energético) e também aumenta o rendimento das operações de semeadura, ampliando a janela de plantio para o produtor. Dada sua importância, o SPD é uma das tecnologias incluídas no Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC).

A inclusão teve como objetivo melhorar a qualidade do sistema, uma vez que há a necessidade de uma cobertura permanente do solo, o que não ocorre nos sistemas de cultivo mínimo ou semeadura direta, nos quais, na maioria dos casos, não há revolvimento do solo. Há ainda em todas as regiões do País uma grande área sob preparo convencional na qual o solo é revolvido, causando emissões de carbono para a atmosfera.

Um dos problemas que podem ocorrer após vários anos da adoção do plantio direto é a saturação do carbono na camada superficial do solo, devido à ausência de revolvimento. O pesquisador Robélio Marchão explica que esse desafio de encontrar outras formas de promover o acúmulo de carbono no perfil do solo em profundidade poderá ser superado com a adoção da integração lavoura-pecuária (ILP), que se baseia na rotação com pastagens em áreas agrícolas.

“Já podemos afirmar, para o caso de solos agrícolas corrigidos, que a rotação dessas áreas com pastagens, em sistemas que integram lavoura e pecuária, é uma das formas de potencializar o sistema plantio direto, permitindo, assim, acumular carbono em camadas mais profundas do perfil do solo”. Em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF) onde ocorre essa rotação entre agricultura e pastagens há um maior acúmulo de carbono no solo, principalmente devido ao sistema radicular das espécies forrageiras, que se torna abundante ao encontrar o perfil de solo corrigido.

Trabalhos realizados pela equipe da Embrapa Cerrados no sudoeste goiano, em Rio Verde e Montividiu, também demonstraram que após aproximadamente 15 a 20 anos nos sistemas convencionais de sucessão safra-safrinha há uma saturação do carbono na camada superficial do solo (0-20 cm), não sendo mais possível estocar quantidades significativas de matéria orgânica no perfil. Daí a importância da integração e rotação com pastagens.

A importância da adoção de práticas de manejo sustentáveis

A intensificação sustentável utilizando plantas de cobertura e ainda rotação com pastagens na ILP é apontada como solução técnica para melhoria da qualidade do solo e formação de palhada para o SPD no Cerrado, além da mitigação de GEE. O conceito de intensificação sustentável está ligado ao melhor uso de recursos naturais combinado com o uso das melhores tecnologias e insumos disponíveis (melhores genótipos e maior eficiência ecológica) que minimizem ou eliminem danos ambientais e maximizem os processos ecológicos nos agroecossistemas.

De acordo com a equipe da Embrapa Cerrados responsável pelos estudos, a intensificação sustentável da produção tem sido estudada em todo o mundo e reflete uma busca constante pela maior sustentabilidade no campo, principalmente em relação à sustentabilidade ambiental da produção agrícola.

Arminda Carvalho, Alexsandra de Oliveira e Robélio Marchão chamam a atenção para o fato de a intensificação sustentável na agricultura atender a um dos grandes desafios da produção de alimentos, o de aumentar a produção nas áreas agrícolas existentes, proporcionando menor pressão pela abertura de novas fronteiras agrícolas, sem reduzir a capacidade de continuar produzindo alimentos e garantindo a segurança alimentar.

Arminda reforça que quanto mais eficiente for o sistema em relação ao uso de nitrogênio e em acumular carbono, como no caso da intensificação sustentável, maior seu potencial de mitigar GEE. A necessidade de buscar alternativas de adoção de práticas de manejo que permitam equacionar produtividade com sustentabilidade é enfatizada por Alexsandra. A pesquisadora destaca principalmente a questão da produtividade, tendo em vista que haverá uma crescente demanda por alimentos em função do aumento populacional.

A previsão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é de que a população mundial até 2050 será de nove bilhões de pessoas, e a demanda por alimentos será de 3,2 bilhões de toneladas por ano, o que representa 40% a mais do que a demanda atual. “Diante desse cenário, a intensificação sustentável da produção por meio da melhoria da qualidade do sistema plantio direto será fundamental para o futuro da agricultura brasileira”, afirma Alexsandra.

Por Liliane Castelões

Fonte: Embrapa 

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