Nas regiões mais atingidas pela escassez
de água, como é o caso do Semiárido, no Nordeste brasileiro, o milheto é
uma alternativa animadora para os produtores. Experiências com a
cultura realizadas pela Embrapa
em diferentes localidades do Semiárido - tanto no Agreste, onde chove
mais, quanto no Sertão, onde é mais seco - alcançaram boas
produtividades, atingindo cerca de 16 toneladas de matéria seca e de 30 a
40 toneladas de massa verde por hectare.
O milheto é tolerante
ao déficit hídrico e se adapta bem às altas temperaturas. “Ele tem uma
produtividade muito boa em condições extremas e, por isso, se torna
estratégico para a região, principalmente para a produção de forragem”,
destaca o pesquisador Rafael Dantas, da Embrapa Semiárido (PE).
Dantas
afirma que, para o Semiárido, onde a água é uma das maiores
deficiências, a silagem é a melhor alternativa, pois possui cerca de 70%
de água em sua composição, ou seja, em cada quilo de silagem se tem
700g de água. “Muitas vezes o produtor tem o alimento e não tem a água
para oferecer ao seu animal”, declara.
Custo menor de produção comparado ao milho
Na
fazenda do senhor Djenal Tavares Queiroz Neto, em Canindé do São
Francisco (SE), por exemplo, a seca foi tamanha que ele já havia
desistido do milho há anos e, em 2017, não acreditou nem mesmo no sorgo.
Resolveu, então, apostar no milheto, que já tinha ouvido falar, mas
nunca havia plantado. “Eu comprei, vi realmente a capacidade de produção
que ele tinha e aí comecei a usar e gostei muito”, declara. Ele diz que
o custo de produção é pequeno, a semente é mais barata que a do milho e
a do sorgo, e não é exigente em adubação.
Além disso, o
pesquisador da Embrapa descreve a vantagem do milheto no Semiárido,
especialmente no veranico, que se caracteriza por um período sem chuvas,
durante a estação chuvosa. “Mesmo no período de chuvas, as
precipitações não são constantes na região, e o milheto é muito
tolerante a esses veranicos”, conta o cientista.
A cultura ainda
está começando a se difundir na região semiárida, com um crescimento
significativo de áreas plantadas, em especial nas bacias leiteiras do
Agreste. Dantas estima que, somente nessa região, tenham sido plantados
entre 20 e 30 mil hectares no último ano, enquanto que nos anos
anteriores essa área não deve ter chegado a dez mil hectares,
especialmente em razão do prolongado período de estiagem.
Milheto e palma forrageira: o feijão com arroz dos animais
Ele
recomenda uma combinação ideal para alimentar os rebanhos da região no
período de seca, que é o uso do milheto associado a outra cultura
tradicional no local: a palma forrageira. Dantas explica a que palma é
pobre em proteínas e fibra – itens que se encontram em abundância no
milheto – e é rica em energia e minerais, além de ter 90% de água em sua
composição. “É o feijão com arroz dos animais”, brinca o pesquisador.
Quando
transformado em silagem, o milheto apresenta um teor de proteína bruta
mais elevado que o sorgo e o milho. Enquanto a silagem dessas duas
culturas tem cerca de 7% de proteína bruta, a de milheto fica entre 10% e
12%. “Isso é uma diferença muito interessante para o produtor, porque
ele consegue diminuir o item mais caro da dieta do animal, que é a
proteína”, destaca o pesquisador. Além disso, a silagem apresenta boa
digestibilidade e um teor de fibra muito interessante para associações
com a palma forrageira.
Cultura se destaca em outras regiões
O
milheto desponta como alternativa de cultivo para diferentes regiões do
País. “É uma gramínea rústica, de grande utilidade para sistemas
integrados de produção”, explica o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (MG) José Avelino Rodrigues.
Segundo
ele, a demanda pelo milheto tem aumentado para plantio em sistemas de
rotação de culturas, de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e
com foco em produção de palhada para plantio direto. A utilização como
planta de cobertura é uma das principais causas da expansão da cultura,
em razão do avanço do plantio direto em regiões do Cerrado. Nessas
áreas, a gramínea se desenvolve bem por apresentar alta resistência à
seca, adaptabilidade a solos com baixo nível de fertilidade e elevada
capacidade de extração de nutrientes, com sistema radicular profundo e
boa produção de massa verde e seca. Os nutrientes extraídos pela planta
permanecem na palhada, são liberados no solo e favorecem a cultura
subsequente.
Além de ser utilizado como planta de cobertura do
solo, o milheto também é empregado como forrageira, uma opção de
pastoreio para o gado, especialmente na Região Sul, na produção de grãos
para fabricar ração e produção de silagem.
Seu potencial
produtivo como forragem pode chegar a 60 toneladas por hectare de massa
verde e a aproximadamente 16 toneladas de hectare de matéria seca,
quando cultivado nos meses de setembro e outubro. Em condição de
pastejo, com animais de recria, proporciona ganhos de até 600 gramas de
peso vivo ao dia ou 20 arrobas por hectare em cinco meses.
Alimento funcional, milheto tem novos mercados
Novos
mercados também se mostram favoráveis à cultura. É o caso do setor de
rações para aves e suínos, que tem interesse em ampliar as fontes de
matéria-prima para atender à crescente demanda do mercado. Além do baixo
custo de produção, a qualidade nutricional do milheto é um dos fatores
predominantes para que o produtor faça sua escolha pela cultura.
Embora
o consumo de milheto para alimentação humana ainda seja baixo no
Brasil, a farinha feita a partir dos grãos do cereal pode ser utilizada
no preparo de bolos, biscoitos e mingaus. Por ser rico em nutrientes que
contribuem para a saúde, o milheto é considerado um alimento funcional.
Vantagens sobre o milho e o sorgo
Em
comparação com outras culturas forrageiras, como o milho e o sorgo, o
milheto apresenta diversas vantagens. Entre as mais importantes está o
uso da água, pois chega a ser de 20% a 30% mais eficiente que o sorgo e
até 50% mais eficiente que o milho, ou seja, necessita de menos água
para produzir um quilo de matéria seca.
Em termos de
produtividade, em condições ótimas de cultivo, tanto o milho quanto o
sorgo são mais eficientes que o milheto. No entanto, quando há
deficiência hídrica, o milheto se equipara ao milho – que produz muito
pouco em razão da escassez de água – e continua sendo inferior ao sorgo.
“A estratégia é que ele seja utilizado em condições de estresse
hídrico, onde até o sorgo sentiria, mas o milheto consegue persistir”,
ressalta Dantas.
A cultura é uma boa alternativa para utilização
em pastejo direto, pois tem uma grande capacidade de rebrota. Essa é uma
vantagem em relação ao milho, por exemplo, que não rebrota, e ao sorgo
que, embora tenha essa capacidade, se estiver muito novo pode intoxicar
os animais. Já o milheto pode ser pastejado em qualquer fase do
crescimento da planta e podem ser feitos dois, três ou mais cortes,
dependendo da oferta de água no campo.
Nova variedadeNo Semiárido, uma variedade de milheto desenvolvida por cientistas da Embrapa Milho e Sorgo vem sendo avaliada há cerca de quatro anos, tanto na região do Agreste quanto no Sertão. Segundo o pesquisador Rafael Dantas, a BRS 1502 respondeu muito bem, com produtividades em torno de 14 a 16 toneladas de matéria seca por hectare. Além disso, cerca de 30% da planta é constituída da panícula, que é a parte mais nobre, por ser mais digestível e ter maior valor nutricional.Também foi avaliada a qualidade da silagem produzida com esse material. Além de se conservar muito bem no silo, tem teor de proteína em torno de 12%, e os animais têm uma excelente aceitação desse material depois de ensilado. “A variedade é bem resistente a todas as intempéries, com potencial muito bom para produzir na região”, destaca Rafael. Atualmente, a Embrapa está em fase de licenciamento de empresas de sementes para produção e exploração comercial da variedade BRS 1502. A nova cultivar é uma variedade de polinização aberta. Possui ciclo médio, com 60 dias da emergência ao florescimento, boa capacidade de perfilhamento e de recuperação na rebrota. Tem bom potencial de produção de massa em sistemas de plantio direto e alta produção de grãos (média de 2.500 quilos de grãos por hectare). Apresenta excelente sanidade foliar, tolerância ao acamamento e sistema radicular profundo. |
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