Como reduzir os riscos da agricultura?

Riscos podem ser reduzidos com o manejo do solo adequado, entre outras ações.


A agricultura pode ser comparada a uma indústria a céu aberto, onde vários fatores controláveis e não controláveis atuam simultaneamente. A produção de grãos, fibra, bioenergia e carne depende fundamentalmente de água, luz, temperatura ambiente e disponibilidade de nutrientes. Esses fatores são essenciais para a produção biológica de uma planta e para que uma determinada espécie vegetal tenha crescimento satisfatório. A produção de qualquer vegetal depende fundamentalmente da fotossíntese, que é a transformação da energia solar em energia química, tendo como resultado a produção de substâncias imprescindíveis para o crescimento e desenvolvimento das plantas.

O solo é o meio do qual a planta retira água e nutrientes. Se o solo apresenta algum tipo de limitação para a infiltração da água e/ou crescimento das raízes, quando a principal fonte de água é aquela quem vem das chuvas, a planta, com certeza, sofrerá prejuízos em consequência da deficiência hídrica.

Desta forma, ter um solo que apresente boa capacidade de infiltração e armazenamento de água, sem a presença de limitações ao crescimento das raízes, mesmo em camadas mais profundas, é uma estratégia para reduzir o impacto de eventuais períodos de estiagem quando se trata de agricultura não irrigada. Práticas que favorecem a infiltração e reduzem o escorrimento são fundamentais para que o solo possa armazenar água para utilização das plantas, além de evitar o empobrecimento decorrente do processo de erosão.

Assim, o plantio em nível e o uso de práticas de conservação são fundamentais para assegurar a capacidade produtiva do solo. A utilização de plantas de cobertura como braquiárias, crotalárias cultivadas isoladas ou em consórcio são importantes para melhoria dos atributos físicos e biológicos do solo, e, por isso, devem fazer parte do sistema de produção. Também cabe destacar que cultivares de soja de ciclo mais longo toleram mais a ocorrência de períodos com falta de chuva, quando comparadas com cultivares de ciclo precoce. Daí a importância de diversificar as cultivares.

Como a luz solar é fundamental para a fotossíntese, processo básico da produção vegetal, havendo deficiência de luz, a atividade fotossintética será prejudicada. Como resultado, não haverá produção de fotoassimilados em quantidade suficiente para atender as demandas do crescimento vegetativo e reprodutivo das plantas. Consequentemente, mesmo que os outros fatores limitantes à produção estejam sendo disponibilizados adequadamente, a produtividade biológica das plantas será afetada negativamente. Uma das estratégias para minimizar a falta de luz, ocasionada principalmente por dias nublados, é a semeadura na época recomendada pela pesquisa.

Cabe também destacar que algumas plantas, como a soja, o algodão e a mandioca, são muito sensíveis à deficiência de luz. Algumas espécies, como a soja, são altamente dependentes da luz para que ocorra a floração. O uso de cultivares/variedades indicadas para uma determinada região, em determinada época de semeadura é indispensável quando se busca produtividades elevadas.

Tanto a temperatura do ar como a do solo têm efeito marcante sobre a produtividade de determinada espécie vegetal. Em relação à temperatura do ar, pouco pode ser feito para alterá-la. No entanto, a época de semeadura é uma prática agrícola, com custo zero, que pode minimizar os efeitos da temperatura do ar, tanto as altas como as muito baixas. A Embrapa disponibiliza aos produtores brasileiros o Zoneamento Agrícola de Risco Climático, ZARC, onde encontra-se informações sobre as melhores época de semeadura para cada condição. Estas informações estão disponíveis num aplicativo denomina ZARC – Plantio Certo. Baixe aqui.

A maioria das plantas tropicais produz bem quando a temperatura do ambiente oscila entre 22º C a 30º C. Tão importante quanto a temperatura é o tempo que predomina a temperatura do ar. A temperatura do solo, da mesma forma, apresenta um grande efeito sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas. Neste caso o homem pode interferir, tanto positivamente como negativamente.

Em um solo descoberto, que foi “preparado” utilizando grade, dependendo se o solo é mais ou menos argiloso, a temperatura da superfície do solo pode chegar a 60º C, interferindo negativamente no crescimento das plantas. Ressalta-se que a grade é um implemento utilizado em obras rodoviárias para compactação do solo. O adequado espaçamento entre fileiras e entre plantas também proporciona melhor cobertura do solo. Além disso, num solo descoberto, a amplitude térmica é grande.

O contrário se verifica em solo onde se adota o sistema plantio direto, que consiste em um tripé: não revolvimento (preparo) do solo, solo permanentemente coberto com palha ou plantas em crescimento e rotação de culturas. A palha de qualquer espécie constitui em uma barreira que impede a elevação da temperatura, além de reduzir a perda de água do solo por evaporação. Numa condição de temperatura do solo muito alta, as raízes das plantas não conseguem extrair do solo água e nutrientes que as plantas precisam. Desta forma, não há dúvida que, para as condições brasileiras, o sistema plantio direto é o mais indicado.

Em resumo, a adoção de práticas agrícolas simples, muitas de custo desprezível, pode fazer toda a diferença quando ocorre um longo período de estiagem, chuvas excessivas, temperaturas elevadas ou muito baixas e períodos de pouca luminosidade, reduzindo assim, os riscos da agricultura.


Fernando Mendes Lamas (*)
Embrapa Agropecuária Oeste

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