O percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus)
já é uma praga conhecida da maioria de quem cultiva eucalipto. Desde
sua introdução no Brasil, em 2008, estudos vêm sendo feitos pela Embrapa
Florestas e parceiros para controlar esse inseto, que atua sugando a
seiva da planta, causando uma desordem fisiológica. As folhas do
eucalipto vão ficando com aspecto bronzeado, secam e, por fim, caem.
“Então o dano dele é uma desfolha muito intensa, praticamente na árvore
toda, e isso compromete o desenvolvimento das árvores, podendo causar
perdas no desenvolvimento, de 15 a 20% no volume de madeira”, explica o
pesquisador Leonardo Rodrigues Barbosa, responsável pelos estudos do
percevejo bronzeado na Embrapa Florestas.
Para
fazer frente a este inseto, um grupo de trabalho, coordenado pelo Protef
– Programa de Proteção Florestal do IPEF- Instituto de Pesquisas e
Estudos Florestais, composto pela Embrapa Florestas (Colombo-PR), Unesp
(Botucatu-SP), Universidade Federal de Viçosa (MG) e a Embrapa Meio
Ambiente (Jaguariúna-SP), desenvolveu, em 2008, um programa de controle
biológico que, desde então, vem controlando com eficácia de 50 a 60% a
praga. O inimigo natural usado é uma vespinha Clerucoides noackae que
parasita o ovo do percevejo bronzeado. A vespinha põe seus ovos dentro
do ovo do percevejo bronzeado e, em vez de nascer um percevejo, nasce
outra vespinha.
“O mérito que nós tivemos aqui
na Embrapa Florestas foi conseguir desenvolver um protocolo para
multiplicação massal do percevejo em laboratório e, com isso, obter ovos
do percevejo em quantidade para poder multiplicar o inimigo natural (a
vespinha) também em grande quantidade. Depois começamos a fazer a
liberação destes inimigos naturais no campo para ver se eles se
estabeleciam nas diferentes regiões do país, e assim poder controlar o
percevejo bronzeado”, explica o pesquisador.
Quando ocorre a praga
Na
região Centro-oeste e no Sudeste, a ocorrência da praga acontece mais
no meio do ano, ou seja, de agora até dezembro, quando a estiagem é
maior. Já no Rio Grande do Sul, o percevejo costuma ocorrer mais no
verão, de novembro a março, período em que também há menos chuvas, um
fator favorável para seu surgimento. De acordo com o supervisor regional
e engenheiro florestal do Escritório Regional da Emater de Santa
Maria-RS, Gilmar Deponti, a ocorrência da praga, na região, tem sido
localizada e reincidente. Segundo Deponti, existem relatos científicos
da ocorrência do percevejo bronzeado, desde 2008, no município de São
Francisco de Assis, localizado na região central do Estado do Rio Grande
do Sul. Porém, a Emater não teve outros casos relatados de ataques na
sua região de abrangência.
Em todos os 35
municípios compreendidos pelo Escritório, há plantios de Eucalipto,
feitos por agricultores e pecuaristas familiares (público prioritário de
serviço de extensão rural, porém, com pouca participação na
silvicultura); por agropecuaristas empresariais, ou por empresas
florestais, sendo, portanto, um polo de produção madeireira. Por
exemplo, no município de São Francisco de Assis-RS, existem 8 mil
hectares de plantio de silvicultura com eucalipto, sendo 5,6 mil
hectares de empresas florestais. Já no município de Cacequi, localizado a
65 km de distância, existem 13,4 mil hectares plantio de eucalipto,
sendo 9,5 mil hectares de empresas florestais.
De
acordo com Deponti, um dos primeiros registros desta praga florestal no
Rio Grande do Sul foi identificado, em São Francisco de Assis, na
propriedade do sr. Onei Passos. Este é o segundo ano do ataque do
percevejo bronzeado na região, tendo sido a primeira ocorrência em março
de 2018. No primeiro ataque, a Emater-RS entrou em contato com a
Embrapa Florestas e solicitou o envio das vespinhas, bem como de
informações para seu correto uso. “Dois anos atrás colocamos as
vespinhas. E agora, com o novo ataque, ainda maior, estamos recolocando o
inimigo natural para controlar o percevejo bronzeado. O uso do controle
biológico tem sido muito importante para o controle do foco da praga no
município, o que reduz custos e riscos de contaminação ambiental, caso
fosse necessária a aplicação de defensivos químicos. E a disponibilidade
da Embrapa Florestas tem sido fundamental”, afirma o supervisor da
Emater do Escritório de Santa Maria-RS.
Gilmar
Deponti conta que os sintomas dos ataques recentes do percevejo
bronzeado foram percebidos no final do último verão e início do outono,
porém, ele acredita que, possivelmente, a praga já estivesse presente
desde a primavera, com sintomas ainda não tão aparentes. “As árvores
gradativamente vão apresentando folhas verde claro, evoluindo para cor
prateada, como se fosse um bronzeamento provocado pelo sol, sendo que,
na maioria das plantas atacadas, toda a folhagem apresenta o sintoma.
“Felizmente algumas plantas da população não chegam a ser afetadas,
possivelmente por motivo de melhor equilíbrio nutricional. Fazendo-se a
coleta de folhas é possível visualizar a praga até a olho nu ou com o
auxílio de lentes de aumento”, garante.
Produção da vespinha
Os
trabalhos em laboratório do grupo multi-institucional coordenado pelo
Protef possibilitaram revelar todo o comportamento do percevejo e de seu
inimigo natural. Os estudos também possibilitaram saber como ocorre seu
desenvolvimento dentro da praga, como se faz para multiplicá-la em
laboratório e as condições de temperatura ideais à multiplicação.
“Depois,
desde 2013, nós começamos a fazer a liberação do inimigo natural (a
vespinha) no campo e hoje estamos numa etapa em que precisamos avaliar a
eficiência desse inimigo natural no campo, mas isso está sendo
dificultado devido às restrições da pandemia”, diz.
Leonardo
Rodrigues Barbosa foi quem desenvolveu uma forma eficiente de criar e
multiplicar essa vespinha. “Em um primeiro momento, nós começamos a
atender as empresas florestais que participavam do projeto do Protef,
que era financiado por várias empresas produtoras de eucalipto. Assim,
começamos a produzir a vespinha e enviávamos para essas empresas.
Atualmente, venho ensinando pessoas das empresas florestais a criarem o
percevejo e a vespinha naqueles locais”, conta. Os frasquinhos contendo
pelo menos 50 vespinhas cada um já foram enviados para empresas em Minas
Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Alagoas, Maranhão, Bahia
e São Paulo.
“Uma expressão no nosso trabalho foi que aqui
na Embrapa fomos um dos poucos locais a ter bastante êxito na criação.
Poucas pessoas conseguiram criar a vespinha. Então, quando tínhamos mais
pessoas trabalhando no laboratório, a gente conseguia produzir de, 300 a
400 frasquinhos no mês. Hoje em dia, a demanda está mais baixa, pois o
percevejo já não é tão problemático assim, mas algumas empresas e
agricultores, pontualmente, ainda solicitam, principalmente nessas
épocas de maior estiagem. Então temos tentado suprir as demandas, na
medida do possível, mas, nesse período de pandemia não estamos
conseguindo produzir como antes”, conta o pesquisador.
Forma de utilização do inimigo natural: a vespinha
Toda
vez que ocorre a infestação da praga é necessário realizar novas
solturas da vespinha inimiga natural do percevejo bronzeado para
controlar a população da praga. No entanto, como o tempo de vida da
vespinha é muito curto, a pesquisa recomenda liberar apenas onde há
infestação, porque a vespa tem vida muito curta e precisa do ovo do
percevejo para se desenvolver. “Então, não adianta liberar a vespinha em
áreas onde não tem infestação do percevejo, pois ela precisa do
hospedeiro”, enfatiza o pesquisador.
De acordo
com o Leonardo Rodrigues Barbosa, a vespinha é enviada em pequenos
frascos de acrílico. Chegando ao destino esse frasquinho tem que ser
levado a campo e preso na copas das árvores de bordadura dos talhões,
onde os ramos são mais baixos. “Ali, os frascos devem ser abertos e as
vespinhas vão sair. Ainda não se tem um número de quantas vespinhas
deve-se liberar por área. Na verdade o que se quer é introduzir essas
vespinhas na área para que elas possam se multiplicar ali e exercer o
controle. A ideia não é ficar liberando constantemente as vespinhas. A
expectativa é que o inimigo natural se estabeleça no local e que não
seja necessário fazer liberações frequentes”, explica Barbosa.
Como confirmar a presença da vespinha
Após
a introdução da vespinha na no plantio de eucalipto atacado pelo
percevejo bronzeado é importante que se faça a confirmação da presença e
atuação do inimigo natural. Para isso, um importante detalhe deve ser
observado na hora de coletar a postura dos ovos e enviar para o
laboratório da Embrapa ou outra instituição que também faça a análise.
“É importante observar se existem percevejos andando pela folha. Porque
se existirem somente posturas (ovos do percevejo) nas folhas, sem que o
percevejo esteja por perto, é possível que os ovos já estejam inviáveis.
Pois tanto o percevejo quanto a vespinha já podem ter nascido desses
ovos. Então, se tem percevejo andando pelas folhas, essa é a postura
ideal. Deve-se recortar essa área, colocá-la em uma embalagem bem vedada
(preferencialmente um frasco de plástico, acrílico ou vidro com tampa) e
enviá-la para a Embrapa para que possamos constatar a presença da
vespinha nas posturas”, explica.
Novos estudos
Em
laboratório, atualmente, estão sendo também testadas algumas dietas
especificas, para ver se é possível aumentar o tempo de vida das
vespinhas. Além desses estudos, tem-se buscado desenvolver, em
laboratório, uma raça de vespinhas que possa ser tolerante a altas
temperaturas. “Uma região na qual a vespinha não se estabeleceu foi lá
no Maranhão. Então estamos mantendo em laboratório populações de
vespinhas em temperaturas mais elevadas para tentar desenvolver uma raça
que possa tolerar essa condição”, diz.
Interessados em obter mais informações sobre a praga e sobre o inimigo natural podem entrar em contato com a Embrapa Florestas.
Embrapa Florestas
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