Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo (MG) identificaram, pela primeira vez no Brasil, a ocorrência da espécie Johnsongrass mosaic virus (JGMV) infectando, naturalmente, lavouras de sorgo [Sorghum bicolor
(L.) Moench]. Os estudos encontraram também, entre os diversos
genótipos testados, uma linhagem de sorgo resistente ao mosaico comum
causado por essa espécie de potyvírus. Em condições ambientais que
favoreçam o seu aparecimento, a doença pode provocar perdas
consideráveis na produção, de acordo com os pesquisadores.
O JGMV é o segundo vírus causador desse mal no sorgo identificado no Brasil. “Anteriormente, apenas o Sugarcane mosaic virus
(SCMV) havia sido encontrado causando mosaico nessa espécie no País”,
informa a pesquisadora da Embrapa Isabel Regina Prazeres de Souza.
Os resultados, publicados no International Journal of Current Research,
foram obtidos após análises moleculares realizadas com amostras de
tecido foliar, coletadas das plantas que apresentavam sintomas de
mosaico. As coletas foram realizadas nas principais regiões produtoras
de Minas Gerais nas safras 2014/2015 e 2015/2016.
“Pela primeira
vez, identificamos a ocorrência do vírus JGMV infectando, em campo,
sorgo granífero e sorgo silageiro no Brasil”, destaca Isabel Souza. As
amostras infectadas foram coletadas nos municípios mineiros de Paracatu,
na mesorregião Noroeste do estado, e Felixlândia, localizado na
mesorregião Central de Minas Gerais (figura 1).
Figura 1. Folha de sorgo expressando sintoma de mosaico devido à infecção por JGMV
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Sorgo é o quinto cereal mais cultivado no mundo
O
sorgo é um cereal cultivado em várias regiões tropicais e subtropicais
do mundo. É considerado o quinto cereal do planeta em produção e em área
cultivada, após trigo, arroz, milho e cevada. Segundo o pesquisador da
Embrapa José Avelino Santos Rodrigues, compara a outros cereais, essa
cultura chama a atenção dos produtores por possuir características
adaptativas superiores para cultivo em áreas sob estresse hídrico. “Isso
justifica o cultivo do sorgo em milhões de hectares, em países da
África, Ásia, Oceania e das Américas”, explica.
Entre as viroses
que afetam o sorgo, destaca-se o mosaico-comum, causado por potyvírus,
que provoca redução na produção de grãos e forragem. Os sintomas da
planta infectada podem ser expressos como mosaico típico ou necrose
foliar, dependendo da cultivar atacada. No primeiro, as folhas têm áreas
cloróticas entremeadas com áreas verdes (figura 2) e, no segundo, áreas necrosadas de cor avermelhada ou amarelada (figura 3).
Figura 2. Planta de sorgo expressando sintoma de mosaico típico nas folhas
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Figura 3. Folha de sorgo expressando sintoma necrótico nas folhas
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Seis espécies de vírus causadores
Em todo o mundo, seis espécies de potyvírus têm sido relatadas causando mosaico-comum em milho ou em sorgo: Sugarcane mosaic virus (SCMV), Sorghum mosaic virus (SrMV), Maize dwarf mosaic virus (MDMV), Johnsongrass mosaic virus (JGMV), Zea mosaic virus (ZeMV) e Pennisetum mosaic virus (PenMV).
“No Brasil, o mosaico-comum no sorgo tinha como agente causal a espécie SCMV, previamente identificada em 2012,
e cuja estirpe, até hoje, se diferencia das relatadas para essa espécie
em outras partes do mundo. Entretanto, a partir de agora, no País, são
duas as espécies de potyvírus capazes de infectar e causar mosaico-comum
em sorgo: SCMV e JGMV”, ressalta a pesquisadora Isabel Souza.
Transmissão pelo pulgão
Em sorgo, o vírus é transmitido pelo pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis) e também pelo pulgão-verde (Schizaphis graminum),
considerado praga-chave dessa cultura. O pulgão-do-milho é o vetor mais
eficiente na transmissão, e, no Brasil, é encontrado principalmente em
regiões onde o sorgo e o milho são cultivados na segunda safra.
Segundo
os pesquisadores, a sucessão de gramíneas, milho e sorgo e o aumento
dos vetores na segunda safra são fatores que contribuem para o
crescimento da incidência da doença do mosaico-comum em ambas as
culturas. Além disso, há evidências da presença de outras espécies de
potyvírus cuja identificação ainda é necessária.
Linhagem de sorgo resistente ao JGMV
Entre
os genótipos de sorgo avaliados quanto à resistência aos isolados de
JGMV, infectando o sorgo no Brasil, apenas uma linhagem, QL3, apresentou
resistência ao vírus. Além disso, as espécies Euchlaena mexicana (teosinto) e Sorghum verticilliflorum
(sorgo nativo) foram infectadas e apresentaram sintomas de mosaico,
sendo esta última considerada planta daninha em diversas culturas no
mundo.
Os genótipos de milho, de cana-de-açúcar e de braquiária
avaliados na pesquisa não foram infectados. “Isso demonstra a
necessidade de se fazer uma avaliação mais ampla empregando maior número
de genótipos dessas espécies”, considerou Isabel Souza.
“A
linhagem de sorgo QL3 representa uma importante fonte de resistência ao
JGMV para ser empregada em programas de melhoramento, visando o
desenvolvimento de cultivares resistentes ao mosaico causado por essa
espécie”, diz a cientista.
A pesquisa foi realizada com suporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e da Embrapa.
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