O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou nesta sexta-feira (28) novas portarias do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura da mamona. A atualização tecnológica, coordenada pela Embrapa e validada com técnicos de diversas áreas ligadas ao setor produtivo, inclui cultivares de ciclo mais curto, risco de chuva na colheita, atualizações na base de dados meteorológicos e ajustes para diminuir os riscos na produção.
“O objetivo do trabalho técnico e metodológico foi identificar as áreas de plantio de menor risco climático para a cultura, abarcando três níveis de risco: 20%, 30% e 40%, e definir os melhores períodos de semeadura para mamona no Brasil, buscando reduzir perdas de produção e obter rendimentos mais elevados”, afirma Eduardo Monteiro, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP) e coordenador do Zarc.
Entre as novidades, destacam-se a atualização dos parâmetros de cultura e ciclos representativos, inclusão de um grupo de cultivares de ciclo curto, isto é, inferior a 130 dias, extensão do zoneamento da mamona para todos os estados brasileiros, ajuste nos critérios e limites críticos, como índice de satisfação das necessidades de água (ISNA), temperatura e chuva na colheita para estimativa de risco, além da inserção do critério auxiliar de escape para o mofo cinzento em regiões ou épocas chuvosas e da subdivisão do Zarc Mamona Semiárido.
A planta da mamoneira (Ricinus communis L.) apresenta tolerância à seca, sendo, portanto, uma boa alternativa de cultivo para regiões secas do País, onde ocorrem limitações ao cultivo de outras culturas mais sensíveis à deficiência hídrica. O cultivo não é indicado para regiões com períodos de chuvas muito prolongados, que propiciam o aparecimento de doenças, como o mofo cinzento, além de prejudicar a colheita e a qualidade do produto.
A cultura é explorada comercialmente devido ao teor de óleo em suas sementes, com aplicação na área de cosméticos, produtos farmacêuticos, lubrificantes e polímeros. Tradicionalmente cultivada por pequenos produtores no Nordeste brasileiro, expandiu-se no Nordeste e para outras regiões do Brasil devido ao incentivo do Programa Nacional de Biodiesel, embora as áreas de produção venham diminuindo atualmente.
Na safra 2018/2019, a cultura da mamoneira no Brasil ocupou uma área de 46,6 mil hectares (ha), com produção de 30,6 mil toneladas de grãos, destacando-se o estado da Bahia pela maior área plantada e maior produção, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para a safra 2019/2020, estima-se uma área de 45,6 mil ha, com produção de 33 mil toneladas de grãos e produtividade média de 725 kg/ha.
As áreas tradicionalmente produtoras de mamona no Brasil encontram-se, basicamente, nas regiões do semiárido brasileiro e transições. A maior parte da produção nacional está na microrregião de Irecê, na Bahia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos anos, a cultura vem se expandindo fora dessa região, no estado do Mato Grosso em dois municípios, onde a duração média dos ciclos e cultivares utilizados e o sistema de produção são bem distintos daqueles praticados nas áreas tradicionais.
Condições agrometeorológicas
Para se obter produções economicamente viáveis, a faixa de temperatura deve-se situar entre 20 a 35 graus Celsius (°C), sendo a ideal em torno de 28 °C. A mamoneira desenvolve-se e produz bem em vários tipos de solos, exceto naqueles de textura muito argilosa e que apresentam deficiência de drenagem. O excesso de umidade é prejudicial durante todo o ciclo da cultura, sendo mais crítico nos estádios de plântula, maturação e colheita, de acordo com os especialistas da Embrapa.
Em cultivo de sequeiro, a mamoneira necessita de uma precipitação pluvial acima de 350 milímetros (mm), bem distribuída ao longo do período total de crescimento, e de umidade suficiente. Não deve ocorrer deficiência hídrica no solo, nos dois primeiros meses do período vegetativo.
Com a expansão da cultura para outras regiões e fora das zonas mais secas do Agreste e Semiárido do Nordeste, comprovou-se a dificuldade de controle do mofo cinzento, causado pelo fungo Amphobotrys ricini, em regiões chuvosas ou com estação chuvosa. Sem cultivares resistentes à doença e sem fungicidas registrados para seu controle, o mofo cinzento é a doença mais destrutiva da mamoneira. O patógeno afeta as inflorescências, os cachos e as sementes, reduzindo a produção e o teor de óleo nos frutos.
Considerando que o Zarc tem como objetivos prover indicações para aumentar as chances de sucesso do empreendimento agrícola e que a doença pode inviabilizar a produção da cultura em áreas de expansão, com perda de safra e ônus ao produtor, foi introduzido um critério adicional no Zarc mamona como uma estratégia de escape à ocorrência severa do mofo cinzento.
Os casos mais críticos ocorrem quando a cultura permanece em florescimento durante longos períodos com umidade elevada, o que pode ser mais grave nos ciclos mais longos de 180 a 200 dias, permitindo maior número de gerações e aumento populacional do fungo. Por isso, o zoneamento das áreas e épocas mais adequadas ao cultivo é fundamental.
Dessa forma, foram adotados como referência os resultados do ciclo de 180 dias em solo do tipo 2 para indicação da disponibilidade hídrica. “Conforme avaliado pela equipe do Zarc Mamona, da Embrapa Algodão, a solução viável foi incluir o bloqueio de datas de plantio que resultavam em coincidência do período de florescimento com o extenso período em condições de elevado ISNA, o índice de satisfação das necessidades de água”, explica Eduardo Monteiro.
A equipe criou um critério para exclusão de decêndios, permitindo manter apenas os últimos três decêndios com risco hídrico menor ou igual a 30% e mais seis decêndios subsequentes, reduzindo-se, dessa forma, o início das janelas de plantio que resultavam em período de florescimento concomitante aos períodos mais chuvosos. Considerando o nível de baixa exigência de ISNA para mamona, os decêndios com risco de 40% não tiveram nenhuma restrição; então as janelas de plantio com mais de três decêndios em risco de 40% não foram restringidas.
Os resultados ajustados pelo critério de escape do mofo cinzento são semelhantes aos já praticados nas regiões de expansão da cultura no estado do Mato Grosso e que viabilizaram a cultura naquelas condições, ou seja, no final da estação de cultivo, em que essa cultura entra como opção para a 2ª safra.
Zarc Mamona Semiárido
Em razão das diferenças entre os sistemas de produção, um mais adequado às regiões mais úmidas do Brasil e outro próprio da região do semiárido, os pesquisadores entenderam a necessidade de subdivisão do zoneamento da mamona em Zarc Mamona e Zarc Mamona Semiárido. Assim, com base nos resultados do ciclo mais longo da cultura, foi delimitada a região a ser utilizada pelo Zarc Mamona Semiárido a partir dos municípios com risco de 40% ou maior. Os municípios com risco de 30% ou menor, nesse cenário, foram excluídos desse Zarc específico para o semiárido e transições, pois não apresentam restrições hídricas.
O Zarc Mamona Semiárido se diferencia do Zarc Mamona no restante do Brasil por admitir uma disponibilidade hídrica muito mais baixa no período produtivo, o que pressupõe produtividades esperadas igualmente mais baixas. Isso é adequado aos sistemas de produção da mamona tradicionalmente adotados no semiárido brasileiro, de baixa produtividade, mas, ainda assim, viáveis, devido ao baixo custo de produção.
As produtividades médias obtidas nas regiões produtoras do semiárido permanecem, geralmente, entre 500 e 600 kg por hectare. As restrições hídricas dessa região são o principal fator que normalmente impedem produtividades maiores. Por outro lado, o ambiente desfavorável a culturas mais rentáveis como a soja ou o milho, o baixo risco para o desenvolvimento do mofo cinzento e sistemas de produção de baixo custo têm viabilizado a produção da mamona nessas áreas há vários anos, conforme comprovam os estudos realizados.
Ao contrário do que é considerado para outras regiões produtoras brasileiras, o Zarc Mamona Semiárido não adota a estratégia de escape do mofo cinzento por estar circunscrito às regiões de baixa pluviosidade, baixo ISNA na fase produtiva e, portanto, com baixo risco para essa doença, de acordo com os especialistas.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Informática Agropecuária
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