Condições climáticas atuais e repercussões na agropecuária de Mato Grosso do Sul

 


Segunda-feira, dia 5 de outubro de 2020, foi dia de quebra de recordes de temperatura em várias cidades do Estado do MS. Estamos vivendo, desde os últimos dias de setembro, uma sequência de temperaturas elevadas entre 12 e 16 horas do dia. Por vários dias seguidos em Campo Grande experimentou-se 40ºC de temperatura por cerca de quatro horas, entre essas horas do dia.

A Estação Climatológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizada na Embrapa Gado de Corte – instituições vinculadas ao MAPA –, coleta dados meteorológicos desde 1973. Até a presente data, a temperatura máxima observada foi em 18 de novembro de 1985, também às 14 horas, e foi de 40,1ºC. No dia 30 de setembro de 2020, porém, chegamos aos 40,8ºC. Ainda no dia 5 de outubro foram observadas, na mesma rede de estações do INMET, temperaturas de 44,6ºC em Água Clara, 43,7ºC em Coxim, 42,3ºC São Gabriel do Oeste e o recorde de Campo Grande. de 41,0ºC. Dentre os 79 municípios do estado, cerca de 20, com estações dessa rede, tiveram temperaturas acima dos 37-38ºC e cerca de 9 municípios passaram dos 40ºC.

Umidade relativa do ar

Aliada às altas temperaturas, também têm sido observada a baixa umidade relativa do ar, sendo o recorde do dia 5 de outubro, ocorrido em Costa Rica, Cassilândia e Água Clara com 10% de umidade do ar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a umidade relativa do ar ideal para saúde é entre 50% e 80%. Assim, quando a mesma atinge entre 20% e 30% em determinados locais, entramos em estado de atenção. Observações médicas relatam que umidade relativa abaixo de 45% já pode ser prejudicial e pode gerar desconforto aos humanos. Além dos 41,0ºC, Campo Grande chegou aos 14% de umidade relativa do ar nesse dia.

Chuvas

As últimas chuvas de alguma expressão ocorreram em Campo Grande entre os dias 16 e 20 de agosto, ao acumulado de 27,5 mm. Entre os dias 22 e 23 de setembro tivemos inexpressivos 8,4 mm, que, como dizem muitos pecuaristas, “só serve para estragar o pouco capim presente”. Em Campo Grande, a média anual de chuvas nestes 47 anos tem sido de 1.506 mm, sendo que de janeiro a setembro chovem normalmente 948 mm. Em 2020, estamos com cerca de 740 mm, cerca de 200 mm abaixo da média. Neste ano, as chuvas estão abaixo do normal desde o mês de março, com exceção do mês de maio. De junho até a presente data temos acumulado um déficit expressivo de chuvas. É bom lembrar que 1 mm de chuva corresponde a 1 litro de água por metro quadrado de área. Assim, de forma simplificada, estaríamos com falta de cerca de 200 litros de água por metro quadrado.

Balanço hídrico de água no solo

Uma forma de se avaliar a disponibilidade de água para as plantas é por meio do balanço hídrico de água no solo, considerando o tipo de solo, a quantidade de chuva ocorrida, a evaporação e a temperatura média do período. Por meio de cálculos pré-estabelecidos, verifica-se a capacidade de armazenamento de água daquele solo, o seu excedente e o déficit até uma profundidade determinada. De forma geral, os solos mais argilosos têm maior capacidade de armazenamento, enquanto os solos arenosos uma menor capacidade. Estas variam de 150 a 50 mm de capacidade de armazenamento até 1 metro de profundidade.

O estado do Mato Grosso do Sul possui os mais diferentes tipos de solos, portanto, com diferentes capacidades de armazenamento e uso para as diferentes culturas e pastagens. As pastagens, de modo geral, são mais adaptadas às baixas quantidades de água no solo, mas até certo ponto. A partir de determinadas quantidades, e dependendo da força que está retida nos poros do solo, a planta começa a sentir dificuldades para absorção e para manter seu crescimento normal.

Uma das primeiras providências tomadas pelas plantas é reduzir o crescimento e criar folhas senescentes a fim de perder área foliar e transpirar menos. Cada tipo de cultura tem suas exigências especificas, e mesmo entre as diferentes espécies de pastagens há as que são mais adaptadas e necessitam de menor quantidade de água. As braquiárias, por exemplo, são menos sensíveis que as espécies de Panicum, família dos coloniões, que secam mais rapidamente e perdem rapidamente a produção. Em anos, como este, todas as espécies já estão prejudicadas, obrigando os pecuaristas a suplementarem os animais com ajuda de silagem, fenagem, rações, suplementos proteicos etc.

Além do impacto na produção agropecuária, a combinação de todos esses fatores – altas temperaturas, baixa umidade do ar e falta de chuvas – pode acarretar sérios problemas ambientais, tais como: excesso de poeira, acúmulo de biomassa seca, fonte de combustível para incêndios e queimadas e, sobretudo, falta de recarga de água aos mananciais que suprem de água as cidades. As previsões mais otimistas estão estimando que as chuvas retornam a partir do dia 11 ou 12 outubro, a conferir.

 

Manuel Claudio Motta Macedo (pesquisador da Embrapa, dr. em Ciência do Solo)
Embrapa Gado de Corte

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