Dieter Liebsch é biólogo, mestre em botânica, doutor em engenharia florestal e consultor da Arauka Ambiental |
O macaco-prego possui um hábito alimentar que tem trazido muitos problemas aos plantios de pinus e eucalipto. Isso porque ele retira a casca destas árvores, geralmente no terço superior, em busca da seiva da planta. Esse descascamento leva não só à perda de produção, mas também ao estresse da planta, e à consequente suscetibilidade à vespa-da-madeira, podendo também levar à morte da planta. Para abordar esse problema e as pesquisas desenvolvidas sobre o assunto, o biólogo, mestre em botânica e doutor em engenharia florestal, Dieter Liebsch, consultor da Arauka Ambiental palestrou, no dia 24, no 7º Workshop Embrapa Florestas/Apre. Liebsch atua em projetos de pesquisa envolvendo danos do macaco-prego em plantios florestais há 17 anos e possui uma série de artigos publicados. Atualmente está envolvido em dois projetos, feitos em parceria com a WestRock e com a Irani Papel e Embalagem.
Em sua apresentação, o pesquisador fez um
apanhado histórico dos trabalhos referentes a esses animais. O
macaco-prego é denominado, atualmente, por Sapajus nigritus, mas, nas
publicações antigas, era citado como Cebus nigritus ou Cebus apela
nigritus. Esta espécie, protegida por lei e quase ameaçada de extinção,
ocorre em Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do
Sul e na região a oeste do rio Paraná (Argentina). O macaco-prego é um
animal onívoro e se alimenta de insetos, ovos de aves, pequenos
vertebrados, folhas, bulbos, sementes e frutos.
De acordo
com o especialista, é uma espécie com um papel muito importante para a
dispersão de sementes e no controle potencial de insetos-praga em
cultivos agrícolas e florestais. No entanto, a densidade desses animais
nas áreas que apresentam problema de danos aos plantios florestais é
extremamente baixa, principalmente na região Sul, em que o número deles
varia de dois a seis por área. Provido de muita inteligência, ele
consegue repassar o aprendizado adquirido aos seus descendentes e grupos
vizinhos. “Então, quando falamos de descascamento de pinus e eucalipto,
estamos falando de um comportamento aprendido e repassado”, enfatiza.
Além disso, é extremamente adaptável à fragmentação, antropização e
empobrecimento de florestas nativas.
Dieta
Preferencialmente, o macaco-prego consome, de janeiro a março, frutos
nativos. De abril a junho, é consumida grande quantidade de pinhão e
semente de pinus, em menor quantidade. Terminada a época de
disponibilidade de frutos maduros, os macacos-prego iniciam os maiores
danos aos plantios florestais em busca de seiva, sendo, portanto, danos
sazonais, que ocorrem de julho a dezembro. “Sabe-se que o Pinus taeda é o
preferencial do macaco-prego, causando 98% de dano, já com o Pinus
patula, ele tem bastante restrição para descascar, causando 0,1% de
dano”, aponta o pesquisador. Outra característica interessante desta
espécie é o amplo uso de espaço, que varia de 700 a 1200 hectares. Por
isso, segundo Dieter Liebsch, eles causam danos em nível de paisagem, em
várias porções diferentes de uma mesma propriedade. “Então, não tem
como pensar em isolar o plantio, porque o macaco-prego tem uma área de
vida é muito grande e utiliza a paisagem pensando no que tem para
comer”, explica.
Na África, há também relatos de pesquisas
que demonstram a atuação de outros primatas, como os babuínos. Lá, os
estudiosos têm discutido dezenas de formas de manejo para conter os
danos destes animais em plantios florestais, “porém, nenhuma delas
eficiente até o momento”, aponta. No Brasil, segundo o pesquisador,
várias alternativas de manejo também já foram utilizadas, e alguns
trabalhos de pesquisa têm buscado avaliar o dano do macaco-prego, como,
por exemplo, em experimentos com sensoriamento remoto no diagnóstico de
danos e no estudo dos atributos da paisagem relacionados ao uso de
plantios.
Dieter Liebsch mencionou também outros estudos, como o de
plantios de espécies nativas em Áreas de Preservação Permanente (APP),
feitos pela Embrapa Florestas, em parceria com a WestRock. Neste
trabalho, está sendo feita a recuperação e o enriquecimento da flora com
espécies nativas que os macacos consomem no período do inverno. Este
trabalho, além de beneficiar o macaco-prego, está promovendo um ganho
ambiental para as áreas.
Em desenvolvimento também, está
uma linha de pesquisa considerada promissora pelo pesquisador, que busca
avaliar a química da seiva, e entender o elemento causador da aversão
do consumo do Pinus patula pelos macacos. Outro trabalho citado avaliou a
substituição do plantio de pinus por eucaliptos, cujos resultados
sugerem uma significativa redução dos danos. “O uso do eucalipto pode
ser, portanto, um bom atenuante para a questão do dano no pinus. Quem
tem esse problema e puder fazer a substituição por eucalipto, é
extremamente recomendado que o faça”, enfatiza.
A Embrapa
Florestas, em parceria com a Irani Papel e Embalagem, está realizando
uma pesquisa, denominada Planejamento e manejo florestal integrado para
redução dos impactos dos danos provocados pelo macaco-prego na produção
de Pinus taeda. Um conjunto de análises vêm sendo realizadas pelos
pesquisadores envolvidos, gerando, até agora, alguns resultados, como o
aplicativo Macaco Calc, que trabalha sobre os dados das perdas no
plantio, e está com versão 2020 atualizada e disponível gratuitamente no
site da Embrapa Florestas.
Outro aspecto observado pelos
pesquisadores, se refere aos efeitos dos desbastes realizados pelos
macacos-prego, como os anelamentos e os janelamentos. “A pesquisa
concluiu que estes desbastes diminuem a concorrência entre as árvores,
proporcionando uma oportunidade de desenvolvimento maior das árvores ao
lado”, diz Liebsch. As perspectivas para o final desta pesquisa,
prevista para ocorrer em 2021, é gerar avaliações de qualidade da
madeira e a valoração de porções danificadas em função do sortimento da
madeira.
Embrapa Florestas
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