Braquiária muito além da alimentação animal

Além de oferecer forragem aos rebanhos, os capins do gênero Brachiaria também contribuem para a estruturação do solo e, em consórcio com culturas agrícolas como milho e café, proporcionam mais sanidade ao solo e ganhos de produtividade das culturas. Mas, até a algum tempo atrás, era comum pensar que braquiária servia apenas para alimentar o gado. “O papel dela vai muito além desse. Ela proporciona um sinergismo na produção de grãos. O fato de o agricultor contar com a braquiária no sistema aumenta a sua produtividade de 5 a 10 sacos de grãos por hectare”, afirma o pesquisador da Embrapa, João Kluthcouski.

A braquiária foi introduzida nos sistemas agrícolas por conta do desenvolvimento do sistema de plantio direto. “Um dos problemas naquela época era identificar qual planta forneceria maior cobertura de solo. Começamos a trabalhar com a braquiária em 1986 especialmente em consórcio milho e sorgo”, relembra o pesquisador Lourival Vilela. A expansão no consórcio se deu com a criação, em 2001, do sistema Santa Fé – um dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.

O Santa Fé tinha dois propósitos: produção de forragem para a entressafra e palhada para o sistema de plantio direto. “A partir daí, começaram a ser observados alguns benefícios adicionais ao se utilizar a braquiária, como redução de plantas invasoras no sistema, controle de mofo branco, melhoria das propriedades física, química e biológica do solo, aumento da matéria orgânica. Hoje a braquiária tem mil e uma utilidades, serve para tudo”, afirma Vilela.

Segundo ele, um dos benefícios desse aumento de matéria orgânica com a introdução da braquiária é a consequente melhoria da agregação ou restruturação do solo. “Num solo mais agregado, você tem, por exemplo, mais infiltração de água, o que favorece a recarga do lençol freático e mantém a vazão dos rios”, afirma o pesquisador.

Pesquisas - resultados recentes de pesquisa da Embrapa mostram que o sistema de manejo das entre linhas do cafeeiro com a braquiária como planta de cobertura promoveu alterações nos atributos físico-hídricos do solo, favorecendo um aumento de 18% no conteúdo prontamente disponível de água do solo. “Isso se deve a ação agregante do sistema radicular da braquiária”, explica o pesquisador Omar Rocha.

Segundo ele, outros benefícios da tecnologia seriam a produção de uma grande quantidade de matéria vegetal, gerando mais matéria orgânica para cobrir as entre linhas, maior estoque de carbono no solo e maior estoque de nitrogênio em camadas superficiais. “A inserção da braquiária no sistema de produção, também permite que o solo fique biologicamente mais ativo, produtivo, resiliente e suporte mais situações de estresse”, afirma a pesquisadora Ieda Mendes.

Pesquisas também já avaliaram a eficiência de uso de fósforo depois da Brachiaria (humidicola). “A produtividade do primeiro cultivo com soja, depois de um ciclo de nove anos de pastagem, foi superior ao sistema exclusivo de culturas anuais para um mesmo teor de fósforo no solo, evidenciando a maior eficiência do uso desses nutrientes quando a pastagem foi inserida na rotação”, afirma o pesquisador Djalma Martinhão.

Já em experimentos de longa duração conduzidos na Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) foram constatados que o rendimento de soja depois de um ciclo de três anos de pasto de Brachiaria brizantha cv. Marandu foi 17% (510 kg/ha de grãos) superior ao obtido no sistema de lavoura contínua. “E esse maior rendimento de grãos foi obtido em área que recebeu menores quantidades de fertilizantes, em média 45% a menos, durante os 17 anos de cultivo solteiro. Isso implica em economia no uso de fertilizantes e, consequentemente, redução nos custos de produção”, afirma o especialista.

Viabilização de áreas - se em alguns casos, como planta forrageira, a braquiária é considerada invasora, como planta cultivada, viabilizou muitas áreas do Cerrado para produção pecuária. “Se a braquiária não existisse, a pecuária no Cerrado não teria essa importância toda”, arrisca dizer o pesquisador da Embrapa João K. Já com relação à agricultura, ele também afirma que dentre os saltos qualitativos que essa atividade teve ao longo dos anos, o principal deles se deveu à introdução da braquiária.

De acordo com o pesquisador Lourival Vilela, o diferencial da braquiária de outras forrageiras tropicais é que ela é menos exigente em termos de fertilidade e, por isso, se adapta melhor aos diferentes solos. “Além de possuir um sistema radicular bastante eficiente, com raízes que alcançam até quatro metros de profundidade (foto). Isso faz com que ela seja uma excelente recicladora de nutrientes do solo”.

O gênero Brachiaria é composto por quase uma centena de espécies, dentre elas destaque para a Brachiaria brizantha, no mercado há mais de 30 anos. De 80 a 90% da área de pastagens cultivadas no Brasil são constituídas por esse tipo de capim. A braquiária é de origem africana, das regiões tropicais como Zaire e Kenya. Foi introduzida no Brasil nos anos 60 pela região da Amazônia e, em seguida, expandiu-se para todas as regiões tropicais e subtropicais do Brasil.

Por Juliana Caldas

Fonte: Embrapa

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