Cadeia produtiva da Araucária é discutida em Curitiba



A preservação e a cadeia produtiva da araucária (Araucaria angustifolia) foram tema de um seminário na segunda-feira, 24/06, em Curitiba/PR. As discussões do evento reuniram resultados de pesquisas científicas, trabalhos da extensão rural, a experiência de produtores rurais, necessidades nutricionais de celíacos e a formação de um grupo de trabalho para tratar da cadeia produtiva do pinhão com o objetivo de lançar um polo de excelência. “Vamos desenvolver uma política municipal de nutrição com base nas araucárias e nos pinhões”, afirmou o Prefeito de Curitiba, Rafael Greca de Macedo. “A farinha de pinhão é adotada pelos celíacos. É com grande alegria que vejo se abrir esse horizonte para criação de uma nova cadeia produtiva", disse o prefeito.

“O pinhão é um ícone da soberania alimentar”, afirmou o Secretário de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, Luiz Gusi. Por isso, dentro do Grupo de Trabalho Alimentar do programa Pró-Metrópole (Programa de Desenvolvimento Produtivo Integrado da Região Metropolitana de Curitiba) está sendo fomentada a criação de um sub-grupo de pinhão, discutindo três aspectos: produção, mercado e consumidor.

O potencial do pinhão como alimento funcional tem atraído o interesse de pesquisadores e consumidores, em especial por ser um alimento sem glúten, com altos teores de proteínas, fibras alimentares e amido. A pesquisadora Cristiane Helm, da Embrapa Florestas (Colombo, PR), ressaltou a importância do uso do pinhão na alimentação de celíacos, que precisam de alternativas alimentares saudáveis. Segundo Helm, “é um alimento versátil, que atende com segurança nutricional tanto o consumidor convencional quanto aqueles que têm alergia ao glúten”. Giseli da Silveira, da Associação de Celíacos do Paraná, explicou que uma das funções da associação é “trazer o celíaco de volta à sociedade”, uma vez que a intolerância ao glúten impede que o celíaco frequente diversos lugares ligados à alimentação. A possibilidade da farinha de pinhão é vista com animação, uma vez que pode viabilizar o suporte nutricional necessário aos celíacos, além dos estudos mostrarem que pode ser um produto de baixo custo. “E isso não só aos celíacos, mas pode auxiliar os que têm diversas outras alergias alimentares”, comemora.

A pesquisadora Cristiane Helm explicou que o potencial nutricional do pinhão ainda é pouco conhecido do consumidor. “O pinhão cozido, por exemplo, é mais nutritivo que o cru ou assado, pois a casca do pinhão tem muitos compostos fenólicos que migram para a semente durante o cozimento”, explicou. A própria água do cozimento pode ser aproveitada em bebidas ou para incorporar em outros alimentos. A casca, que é considerada um resíduo e jogada fora, poderia ser para produção de farinha. “Estamos realizando estudos para a melhor forma de fazer farinha de pinhão, tanto da semente quanto da casca, snacks, barrinhas de cereais, entre outros”.

Se, por um lado, o potencial nutricional e a versatilidade do pinhão na culinária ganham cada vez mais atenção, por outro, o plantio de araucárias selecionadas para produção de pinhão tem que ser estimulado. “A ampliação das técnicas de processamento, conservação e usos do pinhão tende a promover sua valorização, ampliar mercados e aumentar renda na agricultura familiar. Mas para evitar uma forte pressão sobre araucárias nativas, a produção de pinhões tem que ter o suporte de araucárias cultivadas para esta finalidade”, ressaltou em sua palestra o pesquisador Edilson Batista de Oliveira, da Embrapa Florestas. Oliveira lembrou que o pinhão pode atingir patamares de produção e geração de renda tão importantes quanto a castanha-do-pará e o açaí. “Mas, para isso, precisamos investir em incentivos e apoio aos produtores rurais para que implantem pomares de araucária para produção de pinhões”, analisa. O pesquisador lembrou a tecnologia da araucária de pinhão precoce, desenvolvida pelo pesquisador Ivar Wendling, da Embrapa Florestas, que possibilita que araucárias comecem a produzir pinhões com seis a dez anos de idade, ao invés dos 12 a 15 anos. “A cadeia produtiva pode ganhar escala para um mercado cada vez mais interessado no pinhão”, afirma. O pesquisador lembrou ainda do projeto Estradas com Araucárias, que incentiva o plantio da espécie nas divisas das propriedades rurais com estradas, onde os produtores recebem pagamento por serviços ambientais (PSA) nos primeiros dez anos e, depois, podem ter renda com a produção de pinhão.

A necessidade de plantios foi ressaltada pelo extensionista Amauri Ferreira Pinto, do Instituto Emater Paraná, que explicou que o Plano Estadual de Plantios Florestais contempla a espécie. Amauri fez uma análise da evolução da importância da araucária na economia do Paraná. “O produtor rural hoje não conhece o potencial da araucária, seja a sua excelente madeira ou sua utilização como ‘fruticultura’, com a produção de pinhão”, ressaltou, afirmando que são necessárias alternativas ‘dentro e fora da porteira’ para incentivar novos plantios. “O produtor precisa de segurança jurídica aliada a uma atividade de longo prazo para compor a sua produção, com responsabilidade e respeito ao meio ambiente”, salientou.

A reflexão foi corroborada pelo produtor rural e presidente da Assopinho (Associação dos Pinhoeiros de Tijucas do Sul/PR), Luis Roberto Aleixo. “A araucária não pode ser transformada em uma ‘praga’ na propriedade”, testemunhou. “Mas não vejo novos plantios há mais de 20 anos”. Aleixo reforçou que o consumo de pinhão tem crescido, inclusive com interesse de indústrias e do mercado internacional, mas não há como suprir essa demanda atualmente. “Hoje, vendemos pinhão para todo o Brasil É um produto muito importante, mas precisamos de apoio, de incentivo ao plantio e de uma legislação que nos auxilie”.

Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas

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