Pesquisadores internacionais discutem o papel das florestas para diminuir as mudanças climáticas



A programação oficial do XXV Congresso Mundial da IUFRO começou nesta segunda-feira, 30, com a plenária que discutiu “O papel das florestas, dos produtos florestais e dos serviços florestais em um clima em mudança”, realizada no Teatro Positivo. O objetivo da sessão foi debater e identificar de que forma as florestas e os produtos florestais em toda a cadeia podem contribuir para diminuir o efeito das mudanças climáticas. A plenária teve moderação de Gerald Steindlegger, consultor, ex-CEO da WWF Áustria e ex-diretor de Políticas para o Programa de Florestas e Mudanças Climáticas da WWF Internacional, e Werner Kurz, pesquisador do Serviço Florestal Canadense, como palestrante.

Segundo Kurz, o aquecimento global é, hoje, o maior desafio da humanidade. Ele afirmou que as ações da população contribuíram para que essa temperatura média mundial na superfície tenha aumentado significativamente, e que o impacto da mudança climática já é sentido em todo mundo, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) detalhou em seu último relatório.

“O mundo reagiu a isso, com o Acordo de Paris, e os países se comprometeram com a meta de manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C, mas essa meta não será atingida sem a contribuição do setor de terras em geral. O relatório do IPCC publicado no ano passado identificou diversas vias de redução do impacto e todas têm algo em comum: reduzir emissões de combustíveis fósseis e aumentar os sumidouros em terra”, destacou.

Kurz reforçou, ainda, que a mensagem principal do relatório do painel governamental é que cada tonelada de redução do gás do efeito estufa, cada ano e cada grau realmente importam, e que o mundo ainda tem muitas escolhas. Ele citou que uma das atividades disponíveis é a redução do desmatamento e outra oportunidade é o reflorestamento. Ambas as atividades podem ser implementadas em grande escala, mas, para isso, ele ressalta que conhecimento local é fundamental.

“Muitos estudos mostraram que podemos, com manejo florestal sustentável, aumentar o estoque de carbono e o fornecimento sustentável de madeira, fibra e energia. O relatório diz que precisamos ter perspectivas sistemáticas quando analisamos mitigação, uma visão mais ampla. Ou seja, quando avaliamos as opções de mitigação, temos que nos concentrar no equilíbrio do efeito estufa, não somente no estoque de carbono. Há uma grande ameaça da mudança climática e dos impactos disso em florestas, que podem ser sumidouros, mas também podem ser fontes de carbono. Não sabemos qual o efeito líquido da combinação de tudo isso, mas há simetria de riscos que resulta em processos, como incêndios, por exemplo. O aquecimento está alimentando o aquecimento”, alertou.

Nesse contexto, o trabalho dos cientistas, conforme o pesquisador indica, deve ser quantificar as oportunidades de mitigar as mudanças climáticas a partir de sumidouros florestais, reflorestamento e consumo de produtos de madeiras, e todos precisam reconhecer que a atmosfera pertence a toda a humanidade. Por isso, muita coisa deve ser reavaliada.

“Nós, consumidores, temos impacto sobre as mudanças climáticas com nossas escolhas. Achávamos que plantando um trilhão de árvores, resolveríamos todos os problemas, mas, aí, o que falta é o conhecimento local. Precisamos mudar nosso comportamento, nosso estilo de vida. Não vamos usar sumidouros florestais como desculpa para não reduzirmos o uso de combustíveis fósseis hoje. Se mantivermos os aumentos de temperatura abaixo de 2°C, precisamos ter emissões negativas líquidas antes de 2100. São mudanças dramáticas que terão que acontecer para que isso dê certo. Quanto mais atrasarmos, piores serão as consequências”, completou.

Debate


Após a palestra de Werner Kurz, representantes de algumas instituições subiram ao palco para discutir o assunto: Mike Wingfield, presidente da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO); Peter Salke, do Ministério de Economia e Cooperação da Alemanha; Pablo Pacheco, do WWF International; Thais Linhares Juvenal, do departamento florestal da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO); José Carlos da Fonseca Junior, diretor executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá); e Andrea Vásquez Fernández, pesquisadora peruana da Universidade da Colúmbia Britânica.

Na avaliação de Peter Salke, há inúmeras alternativas para recuperar as florestas, e isso se tornou um movimento, com diversas iniciativas se acumulando. “Estamos impressionados com a vontade política voluntária que temos visto acontecer. Uma das metas é reduzir o desflorestamento em 15% até 2030. Para isso, temos que recuperar a paisagem. Mas uma publicação recente traz alguns resultados sombrios em relação à degradação da paisagem florestal: estamos vendo esses números subirem”, salientou.

Em seguida, Pablo Pacheco afirmou que evitar o desmatamento é um caminho difícil, complexo e com múltiplas dimensões, pois “se busca o lucro”. Como não é possível controlar tudo a todo momento, inclusive por conta das mudanças políticas em alguns países, é preciso entender esse cenário e estar atendo à combinação de fatores.

“Precisamos de incentivos. Esse é um dos pontos que vai ajudar a controlar o desmatamento, e temos que pensar em medidas a serem adotadas, como melhoria de governança da cadeia, direitos das comunidades indígenas e muitas outras. Vários atores devem participar, um esforço de várias mãos, com monitoramento, avaliação, transparência, divulgação de informações. Também temos que dar alternativas para as pessoas que vivem nas florestas, pensar em planos de vida dessas comunidades e trabalhar com todos esses aspectos”, pontuou.

A terceira debatedora foi Thais Linhares Juvenal, da FAO, que afirmou que existem duas palavras-chave nessa discussão: sinergia e compensações. Ela lembrou que a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, metas para estimular o desenvolvimento de forma integrada. De acordo com a representante da FAO, as florestas podem contribuir para a solução, mas “não são tudo”.

“Quando fazemos escolhas, temos que saber que elas são parte muito importante do processo. Só vamos fazer boas escolhas se tivermos bons dados e informações, e é papel da ciência informar esses dados. Temos desafios em termos de paisagem, pobreza, segurança alimentar. A mudança climática é urgente, mas a pobreza e a segurança alimentar são fundamentais. Precisamos ter esse diálogo com base em informações da ciência. Se não tivermos isso, não vamos chegar a lugar algum. Temos que transferir essas informações para os políticos e precisamos ter diálogo, sem impor as soluções. Devemos usar dados para encontrar um equilíbrio entre sinergia e trades-offs e, assim, chegarmos aos nossos objetivos. Respeito e equilíbrio são o que precisamos”, reforçou.

José Carlos da Fonseca Junior, diretor executivo da Ibá, afirmou que a maioria dos países está realmente comprometida e alinhada aos objetivos da agenda 2030 da ONU e aproveitou a oportunidade para destacar alguns dados do relatório anual de sustentabilidade produzido pela entidade e lançado em 2019.

“Se considerarmos manejo sustentável de florestas, houve aumento de 40% de florestas certificadas desde 2000, e isso tem impacto em diversos objetivos. Houve também redução de 19,2% das emissões de gases desde 2005 e diminuição de 63% em outras emissões. No Brasil, tivemos um aumento de 45% no uso de energias renováveis, enquanto que o setor atingiu um crescimento de 82%. Também tivemos aumento de 68% na reciclagem, diminuição significativa do uso de água por tonelada etc. Temos medidas muito claras e esses são alguns dos resultados de inúmeros investimentos em pesquisa, tecnologia e inovação”, disse.

Outra convidada para o debate foi a pesquisadora Andrea Vásquez Fernández. Ela contou que tem experiência como mulher nativa dos andes peruanos e vem trabalhando com populações nativas na Amazônia. Para ela, é preciso encontrar alternativas.

“Não vamos ter mudanças se os sistemas continuarem iguais. Temos que ver as atividades nativas tradicionais, pois eles têm relacionamento de milhares de anos com terra, com os animais, com as árvores, com a água. Precisamos pensar em quatro aspectos: respeito, carinho, reciprocidade e cuidado. Esses quatro pontos precisam ser implementados. Temos que negociar, mas, dentro da ciência, é importante promovermos espaços para as pessoas locais, nativas, para que elas contribuam e possam ajudar a operacionalizar. Eles têm que participar desse cenário”, afirmou.

Para fechar a plenária, o moderador Gerald Steindlegger convidou Mike Wingfield, presidente da IUFRO. Para Wingfield, apesar da preocupação com o aquecimento global, ainda há tempo e oportunidade de encontrar caminhos para resolver a situação.

“Temos medo de o tempo ter passado, mas ainda é possível fazer alguma coisa, e essa plenária deixou isso bem claro. Temos muitas soluções, ciência disponível que não está sendo implementada. Fala-se muito em soluções rápidas, mas tenho receio disso. Não podemos pensar somente no oceano sem pensar em outras coisas. A ciência está atravessando um momento difícil e nós, cientistas, sabemos disso. Temos divulgação de mensagens falsas, as famosas fake News, o tempo todo. Precisamos conquistar a confiança das pessoas, escutar os povos nativos, buscar ideias que vêm deles. Já sabemos o que fazer, o problema é fazer. Temos que agir”, concluiu.

IUFRO 2019


O XXV Congresso Mundial da IUFRO acontece de 29 de setembro a 05 de outubro, no Expo Unimed, em Curitiba, com o tema central “Pesquisa florestal e cooperação para o desenvolvimento sustentável”. Esse é considerado o maior evento de pesquisa florestal do mundo e acontece pela primeira vez na América Latina.

Na programação, estão previstas sessões plenárias e subplenárias, sessões e excursões técnicas, além de eventos paralelos, todos englobando cinco temas estratégicos: “Florestas para pessoas”; “Floretas e mudanças climáticas”; “Florestas e produtos florestais para um futuro mais verde”; “Biodiversidade, serviços ambientais e invasões biológicas”; e “Florestas, interação com o solo e a água”.

A IUFRO 2019 tem organização local da Embrapa e Serviço Florestal Brasileiro e organização internacional da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO).

Saiba mais: http://iufro2019.com/

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Maureen Bertol (MTb 8330/PR)
Embrapa Florestal

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