Brasil apresenta experiências de produção em regiões secas para especialistas do G20

 

A experiência desenvolvida pela Embrapa com o uso de espécies adaptadas, a exemplo da palma forrageira (Opuntia fícus-indica e Nopalea cochenillifera), como estratégia para garantir maior eficiência de uso de água em regiões semiáridas, chamou a atenção de pesquisadores estrangeiros e pode se tornar referência principalmente em países como a Arábia Saudita. A adoção da espécie e a integração de cultivos têm sido consideradas ferramentas importantes para a capacidade de adaptação dos sistemas de produção. Além disso, diante do cenário de mudanças climáticas, a palma também já revela potencial para regiões, onde já está prevista a redução de precipitação para os próximos anos.

A apresentação da tecnologia da pesquisa brasileira foi feita durante o International Virtual Experts Meeting on Promoting Sustainable Agriculture Development in Drylands, realizado dia 10 de agosto, como parte da programação do Meetings of Agricultural Chief Scientists of G20 States (MACS-G20). Vinícius Guimarães, coordenador do Labex Europa, que lidera a participação do Brasil no evento, e Diana Signor, pesquisadora da Embrapa Semiárido, presidente do portfólio Convivência com a Seca no Semiárido, representaram o País no encontro virtual, que contou com a participação de especialistas de vários países. A Arábia Saudita foi a responsável pela organização do evento.

“O foco dos projetos desenvolvidos com o objetivo de aumentar a resistência e a resiliência dos sistemas de produção no Semiárido brasileiro está no fortalecimento dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta”, explicou a pesquisadora, ressaltando a importância da palma como fonte energética, além de reserva hídrica, para os rebanhos. Segundo ela, a produtividade média da palma forrageira nessa região, onde se concentra a maior parte da  produção brasileira, é de cerca de 25 t/ha (Censo agropecuário 2017, IBGE).

Durante a apresentação, ela demonstrou que o cultivo pode ser feito isolado ou em combinação com outras espécies, o que contribui com a diversificação da dieta dos animais e melhora o rendimento das culturas. “O consórcio com leguminosas, como a gliricídia, por exemplo, é excelente, porque a gliricídia realiza fixação biológica de nitrogênio e funciona como uma espécie de bomba de água e de nutrientes das camadas mais profundas para a superfície”, explicou. “E isso melhora os atributos do solo, beneficiando a produção da palma”. Além de leguminosas, também é possível o cultivo de gramíneas, como o milho, milheto e sorgo, entre as linhas de palmas.

Conhecer o trabalho desenvolvido em outros países, na opinião da pesquisadora, também foi uma oportunidade importante. “Podemos pensar em parcerias com grupos de cientistas que atuam em contextos semelhantes, muitos dos quais já manifestaram esse interesse”, contou. “Há pesquisas semelhantes, como as da Argentina, que mostraram resultados com rizobactérias promotoras do crescimento vegetal para melhorar a tolerância à seca de espécies cultivadas”, lembrou. “Na Embrapa Semiárido, temos ações com esse mesmo foco”.

Parcerias estratégicas

Segundo Vinícius Guimarães, coordenador do Labex Europa, a presença da Embrapa em eventos que reúne especialistas estrangeiros promove chances de captar ações empreendidas nos diversos países e abre possibilidades de futuras parcerias. “Entendi que seria estratégico contar com a presença do portfólio Convivência com a Seca no Semiárido, porque muito do que foi apresentado pelos países nos ajuda a avaliar ainda melhor nossa carteira de projetos e nossos desafios, dando ao portfólio ainda mais elementos para consecução de suas ações”, disse.

Guimarães chamou a atenção para a apresentação feita pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), durante a qual, em vários momentos, Shantanu Mathur, representante da instituição, citou as experiências brasileiras. O Fida é a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), sediada em Roma, Itália, destinada à promoção de ações em benefício de populações rurais de países em desenvolvimento, na superação da pobreza e da fome. “Em um evento deste nível, quando uma instituição como o FIDA cita e reforça o trabalho apresentado pelo Brasil é uma segurança a mais sobre os rumos que precisamos seguir”, completou o coordenador do Labex.

O MACS G20 é o encontro dos responsáveis pela área de Ciência e Tecnologia dos países membros e que antecede a reunião de ministros da Agricultura no G20. Durante o encontro, ocorrido em Al Khobar, na Arábia Saudita, em fevereiro passado, foram programadas duas reuniões virtuais para o segundo semestre deste ano, em função das limitações decorrentes da pandemia. A primeira delas em Riyadh-Arábia Saudita, no último dia 10, e a próxima, será no dia 31 de agosto, e o Brasil será representado pelo Coordenador do Labex-Europa e gestores do portfólio de Alimentos, segurança, nutrição e saúde.

Kátia Marsicano (MTb DF 3645)
Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas

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